Um grande exemplo de solidariedade
Mais de mil dadores, dos mais diversos pontos do País, entupiram ontem os centros de recolha e chegaram a formar filas - houve quem esperasse duas horas - para dar sangue. Em Lisboa, o Instituto Português do Sangue teve até de mandar chamar uma brigada do Alentejo para ajudar a fazer face à afluência de dadores.
A forma como estes portugueses aderiram ao apelo das autoridades de saúde seria sempre uma iniciativa a merecer elogio, mas, acontecendo numa altura em que a crise continua a fazer estragos na economia nacional e o momento político que se atravessa agrava ainda mais a situação do País, justifica um redobrado reconhecimento.
Num tempo em que Portugal se deita e acorda sob intensos raios de polémicas, guerras, acusações e más notícias, ver mais de um milhar de cidadãos, de todas as idades, a correrem em massa para responder à grave escassez de sangue que o País vive, neste momento, é uma lufada de ar fresco.
A prova de que há portugueses para além dos que conduzem os destinos do País ou ambicionam fazê-lo, dos que aparecem na televisão ou têm o privilégio de ter voz nos jornais e nas rádios.
Portugueses capazes de esquecer, por um momento, todas as dificuldades que enfrentam actualmente e contribuem de forma voluntária para, com um pequeno gesto, salvarem vidas. Literalmente.
Um exemplo de gente anónima, sobre o qual se deve reflectir. E, mais importante, seguir. À letra ou noutras oportunidades que a vida coloque à disposição.
EUA cada vez mais atolados no Afeganistão
O povo afegão, um dos mais tenazes do planeta, derrotou o exército colonial britânico e as tropas soviéticas que pretenderam anexar este território indomável, semeado de montanhas. Washington arrisca-se a sofrer uma humilhação semelhante à experimentada pelas forças expedicionárias de Londres e de Moscovo noutros contextos históricos e políticos.
O recente reforço de 30 mil militares, decretado por Barack Obama, do contingente da NATO estacionado no Afeganistão desde 2001 sugere uma imagem de força que é mais ilusória que real. E porquê? Porque ilude algumas questões essenciais: a guerra que ali se trava não é convencional, ninguém conhece o terreno como os combatentes talibãs e a resistência ao invasor fornece uma energia anímica suplementar a quem sempre se habituou a viver sem a tutela de países estrangeiros.
Mais cedo do que tarde, Barack Obama terá de se confrontar com esta realidade: se persistirem em solucionar a questão afegã apenas com o recurso a meios bélicos, os norte-americanos arriscam-se a desembocar ali num novo beco sem saída, semelhante ao que os conduziu à humilhante fuga de Saigão, em 1975 - uma ferida que tem levado décadas a sarar.
O Afeganistão pode dar a Washington uma lição ainda mais dura do que o Vietname: não há justificação moral para uma "guerra preventiva" ao terrorismo, por mais que o fantasma do 11 de Setembro persista em pairar sobre todos nós.