O novo ano promete ser um ano de decisões importantes para a União Europeia. A maior delas provavelmente não será o Brexit, mas as eleições para o Parlamento Europeu em maio e as decisões daí resultantes sobre o futuro rumo da UE..As eleições determinarão se o equilíbrio de poder tenderá para os reformadores da UE, para os populistas variados ou para um novo grupo de desaceleradores nórdicos da integração europeia. Esta coligação também é conhecida pelo nome incorreto de "nova Liga Hanseática" e é liderada por Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda. Os chamados populistas não têm nenhuma hipótese de ganhar o controlo do Parlamento Europeu, mas podem acabar mudando o equilíbrio de poder numa direção ou na outra..Emmanuel Macron, o presidente francês, é o único líder político moderno que lançou uma campanha nacional de sucesso com uma visão federalista para o futuro da UE e da zona euro..Não houve ninguém digno de nota neste campo desde a partida dos grandes integracionistas dos anos 1990. Macron não conseguiu até agora alinhar os Estados membros da UE pelas suas ideias reformistas..Com menos de dois anos cumpridos do seu mandato presidencial de cinco anos, isto não é surpreendente. Não seria razoável esperar demais, demasiado cedo, de um único político. Muito dos seus esforços foram também aplicados numa proposta para um fundo orçamental para toda a zona euro, o que não teria sido uma prioridade minha..A nível interno, o senhor Macron tem problemas ainda maiores. Ele tem uma tendência para avaliar mal as situações, além de uma incapacidade crónica para acertar no tom. Neste ano, Macron disse a um grupo de pensionistas que parasse de reclamar e repreendeu um jardineiro por se queixar de estar desempregado quando havia empregos disponíveis nos cafés parisienses..Ainda é cedo para concluir que estamos a olhar para o abismo de mais uma presidência francesa fracassada - Macron ainda tem tempo para recuperar. Mas isso exigiria uma dramática reinicialização presidencial, que já pode ter começado quando ele concordou com um incentivo orçamental discricionário para apaziguar os manifestantes dos coletes amarelos. Não é difícil entender por que teve de fazer isso, mas os efeitos no défice francês e a consequente violação das regras orçamentais da UE põem em risco a credibilidade da sua agenda europeia..A questão mais imediata é se ele consegue recuperar a tempo das eleições europeias. Poderá não o conseguir, e tal fracasso acabaria provavelmente com qualquer esperança de mais integração europeia durante muito tempo. Sem ele, não haverá mais ninguém no Conselho Europeu com peso suficiente para lutar por isso..A chanceler alemã, Angela Merkel, entrou nos anos finais da sua carreira e não vai gastar o remanescente do seu capital político na UE. Ela sempre fez o mínimo necessário para evitar um colapso da zona euro, mas nunca investiu capital político sério na integração europeia. A sua recusa em forjar uma forte aliança política com o presidente francês foi um erro estratégico..Mesmo no cenário mais otimista, Macron e os seus aliados liberais não têm qualquer hipótese de se tornarem o grupo mais forte nas eleições europeias. Mas, dependendo do resultado, ele poderá moldar a agenda da UE nos próximos cinco anos e ser fundamental na formação de uma coligação pró-europeia. Estas eleições não são nunca ganhas por um só partido, já que a paisagem é formada por blocos e alianças em movimentação..Podemos sentir-nos tentados a descartar o possível fracasso de Macron como não sendo uma coisa fundamental para a UE. Superficialmente, pode ser verdade. A UE não entrará em colapso. O Brexit mostrou-nos que a desintegração é ainda mais difícil do que a integração, mas não subestimemos o que o impasse poderá fazer a longo prazo. A capacidade da UE para se libertar dos EUA no que respeita à defesa está a acabar, e a demissão, neste mês, de Jim Mattis de secretário da Defesa dos EUA poderá acelerar esse processo. O euro poderia ter-se tornado uma ferramenta importante na diplomacia externa, mas a UE não foi suficientemente implacável para explorar o seu potencial..O bloco também precisa de encontrar uma resposta estratégica para a China. Recentemente, o governo chinês não deixou ninguém em dúvida sobre o que deseja da UE: livre acesso aos mercados europeus, colaboração em áreas que considera importantes e, é claro, nenhuma interferência nos assuntos internos chineses. É muito menos claro o que a UE quer da China..Se o senhor Macron fracassasse, a UE retrair-se-ia sobre si mesma e ficaria à mercê de forças externas, entre elas a China. Não se ouvirá nunca um grande estrondo, mas poder-se-á discernir um leve eco da deflação do poder de influência..Dito isto, nós, europeus, ainda temos muito a nosso favor. Somos liberais e ricos, temos algumas das cidades mais bonitas do mundo, grandes obras de arte e ótimos vinhos, e somos amplamente representados em instituições internacionais. Mas não estamos a investir no futuro. Estamos a ficar para trás na inovação e estamos a ficar velhos. As eleições de 2019 são sobre se a UE consegue aguentar-se sozinha num mundo mais hostil..© The Financial Times Limited, 2018