Um fiscal para quatro anarcas

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Gabriel Magalhães, um grande amigo e pensador, tem uma máxima para definir o nosso povo. Diz ele que em cada cinco portugueses há quatro anarcas e um fiscal e que por esse mesmo motivo ninguém se entende. O que se está a passar actualmente na vida nacional é o reflexo deste tipo de comportamento. Há um descontrolo total da situação, cada um grita para seu lado, os sinais são de descontentamento e protesto, há uma falta de crença e de respeito pelas instituições e o resultado está à vista. O grande problema é que ninguém sabe como resolver a desorientação e a mentira reinantes e a coisa está a tornar-se demasiado perigosa.

Já todos sabemos que a crise nos caiu em cima e que não há outra volta a dar a não ser apertar o cinto e mudar de vida. Os excessos, os gastos supérfluos passaram à história e todos teremos de interiorizar que terminaram os tempos do novo-riquismo e da exibição daquilo que não se possui. Quem tem um emprego e um salário deve dar-se por satisfeito porque pode pagar a renda da casa, o transporte público e as contas do supermercado. Quem não tem trabalho estará bem pior e deverá fazer um esforço para viver com o parco e temporal subsídio que o Estado dá até que encontre ou surja uma alternativa. Aos mais idosos e desamparados não se pode faltar e é para esses que todos teremos de contribuir. Aos mais jovens deve ser pedido esforço, imaginação e coragem para ajudarem a criar riqueza e a mudar o País.

A quem nos governa, seja ele quem for hoje ou amanhã, há que exigir verdade e exemplo. Já vivemos em democracia há 37 anos e chegou a altura de reclamar um outro comportamento por parte daqueles que elegemos. Se são necessários mais sacrifícios, que o digam alto e bom som para todos compreendermos; se são precisas mais medidas para que o saneamento das contas públicas seja eficaz, que o digam olhos nos olhos; se há mais cortes a fazer, pois que o façam de cima para baixo; se a próxima década vai ser de penúria, que o assumam e que apresentem soluções e, se não forem capazes, digam-no também. Basta de cálculos e de movimentos no tabuleiro do xadrez político. Neste momento, o que menos importa aos cidadãos são os "xeque-mates" ou os cálculos do A e do B. Ou alguém fala e age em nome da verdade, ou a espiral de descontentamento acaba por arrastar o País para um marasmo do qual nenhum de nós sairá.

Talvez tenha sido isto que o Presidente da República ensaiou dizer no seu discurso de tomada de posse e que foi justamente interpretado como de "ruptura" e como "o mais duro de sempre". Ainda bem. Cavaco falou verdade. Temos fiscal.

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