Um farol que rouba a luz aos amantes
Com Blue Valentine - Eu e Tu (2010), Derek Cianfrance foi uma das boas revelações do início da década. Experiente no registo documental, essa primeira incursão na crónica de uma relação amorosa, notavelmente interpretada por Michelle Williams (nomeada ao Óscar) e Ryan Gosling, pôs em evidência a sua capacidade de trabalhar o lado tangível da intimidade.
Com o novo A Luz entre Oceanos, que confia a Alicia Vikander e Michael Fassbender a expressão dramática de uma robusta matéria literária, o realizador americano faz tremer a estrutura sólida que os seus filmes começavam a representar. A passagem à tela do romance de época de M. L. Stedman, que conta a história do solitário vigilante de um farol, marcado pela experiência da I Guerra Mundial, e da sua esposa, impedida pelo destino de conceber filhos, deixa-nos uma sensação de falta de consistência e ritmo.
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Mesmo com o aparecimento de um bebé que, "por milagre", qual Moisés no cesto, dá à costa, a inscrever um novo capítulo no abismo deste casal, Cianfrance não alcança a precisão do retrato emotivo. À força de tanto o querer estampar, e com o auxílio das notas musicais de Alexandre Desplat, A Luz entre Oceanos fica-nos na memória sobretudo pela paisagem de um isolamento simbólico. Imagens de beleza frágil, a solicitar espessura melodramática.
Classificação: ** Com interesse