António Guterres encontrava-se reunido com o primeiro-ministro do Governo de União Nacional (GNA), Fayez Sarraj, em Tripoli, a preparar a conferência de reconciliação nacional, quando o marechal Khalifa Haftar deu ordens para o Exército Nacional Líbio (LNA) avançar para a capital. No dia seguinte, 5 de abril, o secretário-geral das Nações Unidas deslocou-se ao leste, ao quartel-general do militar. À saída, a mensagem foi de desânimo: "Deixo a Líbia com uma profunda preocupação e o coração pesado." Marcada para este domingo, 14 de abril, foi suspensa a conferência que ia sentar GNA e LNA à mesma mesa e comprometê-los com um calendário para se realizarem eleições..Duas semanas antes, diplomatas estiveram reunidos com Haftar a tentar dissuadi-lo de lançar uma ofensiva contra o governo internacionalmente reconhecido de Tripoli e apoiado pelo Qatar e pela Turquia (e em menor extensão por Itália). Mas o ex-militar de Kadhafi e antigo agente da CIA recusou qualquer partilha de poder. Até porque, conta o The Wall Street Journal , Haftar recebeu outra delegação com uma oferta que falou mais alto: milhões de dólares de ajuda oriunda da Arábia Saudita..No mesmo dia em que o LNA teve guia de marcha para se deslocar da Cirenaica para a Tripolitânia, alguns países envolvidos - França e Itália (cujos governos também rivalizam neste tema), Emirados, Reino Unido e Estados Unidos - emitiram um comunicado de apoio ao programa da ONU, e a apelar ao baixar das tensões, tendo omitido qualquer referência negativa à ação unilateral de Haftar..A Rússia, país que apoiou o marechal ao criar uma moeda alternativa, bloqueou uma posição comum no Conselho de Segurança da ONU. Na quarta-feira, numa reunião desse órgão, que decorreu à porta fechada, Guterres admitiu ter sido "apanhado de surpresa" e considerou a jogada de Khalifa Haftar desrespeitosa para com as Nações Unidas e para si. À AFP, um diplomata confidenciou que o português indicou que o senhor da guerra transpareceu durante o encontro entre ambos ter recebido luz verde dos seus apoiantes para lançar a campanha sobre a capital..Em público, o secretário-geral lançou um apelo para se "evitar o pior" e "relançar um diálogo político sério". Ao fim de uma semana de combates às portas de Tripoli contam-se 75 mortos, dos quais 17 civis, e 323 feridos. Cerca de dez mil pessoas abandonaram as casas, mas, segundo o mais recente balanço do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, há mais de três mil pessoas reféns do conflito e a pedirem para serem transportadas para uma zona segura..Migrantes à fome.Milhares de refugiados e migrantes, sírios e subsarianos, encontram-se presos em centros de detenção em condições miseráveis na capital líbia à medida que a guerra se aproxima. O país tem sido uma placa giratória para migrantes entrarem na Europa nos últimos anos. Mas o endurecimento das políticas europeias contra a migração via Mediterrâneo e um acordo com a guarda costeira líbia têm bloqueado a passagem marítima, como no tempo da ditadura de Muammar Kadhafi. A maior parte dos migrantes e refugiados é vítima das redes de tráfico humano - maus-tratos, violações e até escravatura. E os centros de detenção, subsidiados pela União Europeia, não são melhores..À Euronews, um migrante disse na segunda-feira que a situação das centenas de pessoas, mulheres e crianças incluídas, é "indescritível". Não comia há três dias e dizia que faltava água no centro Qasr Bin Gashir..Os que são libertados e fogem da Líbia partilham histórias de horror como as que se leem no relatório do alto-comissário para os direitos humanos das Nações Unidas. Andrew Gilmour esteve no Níger e contou que todos os migrantes e refugiados, independentemente do género e da idade, foram violados, muitos de forma repetida, e torturados com choques elétricos. Contaram ainda a técnica de resgate que consiste em forçar a vítima a ligar aos familiares e depois sujeitar estes aos gritos do torturado. Gilmour afirma que os torcionários são contrabandistas, traficantes, membros das milícias e funcionários do Estado.
António Guterres encontrava-se reunido com o primeiro-ministro do Governo de União Nacional (GNA), Fayez Sarraj, em Tripoli, a preparar a conferência de reconciliação nacional, quando o marechal Khalifa Haftar deu ordens para o Exército Nacional Líbio (LNA) avançar para a capital. No dia seguinte, 5 de abril, o secretário-geral das Nações Unidas deslocou-se ao leste, ao quartel-general do militar. À saída, a mensagem foi de desânimo: "Deixo a Líbia com uma profunda preocupação e o coração pesado." Marcada para este domingo, 14 de abril, foi suspensa a conferência que ia sentar GNA e LNA à mesma mesa e comprometê-los com um calendário para se realizarem eleições..Duas semanas antes, diplomatas estiveram reunidos com Haftar a tentar dissuadi-lo de lançar uma ofensiva contra o governo internacionalmente reconhecido de Tripoli e apoiado pelo Qatar e pela Turquia (e em menor extensão por Itália). Mas o ex-militar de Kadhafi e antigo agente da CIA recusou qualquer partilha de poder. Até porque, conta o The Wall Street Journal , Haftar recebeu outra delegação com uma oferta que falou mais alto: milhões de dólares de ajuda oriunda da Arábia Saudita..No mesmo dia em que o LNA teve guia de marcha para se deslocar da Cirenaica para a Tripolitânia, alguns países envolvidos - França e Itália (cujos governos também rivalizam neste tema), Emirados, Reino Unido e Estados Unidos - emitiram um comunicado de apoio ao programa da ONU, e a apelar ao baixar das tensões, tendo omitido qualquer referência negativa à ação unilateral de Haftar..A Rússia, país que apoiou o marechal ao criar uma moeda alternativa, bloqueou uma posição comum no Conselho de Segurança da ONU. Na quarta-feira, numa reunião desse órgão, que decorreu à porta fechada, Guterres admitiu ter sido "apanhado de surpresa" e considerou a jogada de Khalifa Haftar desrespeitosa para com as Nações Unidas e para si. À AFP, um diplomata confidenciou que o português indicou que o senhor da guerra transpareceu durante o encontro entre ambos ter recebido luz verde dos seus apoiantes para lançar a campanha sobre a capital..Em público, o secretário-geral lançou um apelo para se "evitar o pior" e "relançar um diálogo político sério". Ao fim de uma semana de combates às portas de Tripoli contam-se 75 mortos, dos quais 17 civis, e 323 feridos. Cerca de dez mil pessoas abandonaram as casas, mas, segundo o mais recente balanço do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, há mais de três mil pessoas reféns do conflito e a pedirem para serem transportadas para uma zona segura..Migrantes à fome.Milhares de refugiados e migrantes, sírios e subsarianos, encontram-se presos em centros de detenção em condições miseráveis na capital líbia à medida que a guerra se aproxima. O país tem sido uma placa giratória para migrantes entrarem na Europa nos últimos anos. Mas o endurecimento das políticas europeias contra a migração via Mediterrâneo e um acordo com a guarda costeira líbia têm bloqueado a passagem marítima, como no tempo da ditadura de Muammar Kadhafi. A maior parte dos migrantes e refugiados é vítima das redes de tráfico humano - maus-tratos, violações e até escravatura. E os centros de detenção, subsidiados pela União Europeia, não são melhores..À Euronews, um migrante disse na segunda-feira que a situação das centenas de pessoas, mulheres e crianças incluídas, é "indescritível". Não comia há três dias e dizia que faltava água no centro Qasr Bin Gashir..Os que são libertados e fogem da Líbia partilham histórias de horror como as que se leem no relatório do alto-comissário para os direitos humanos das Nações Unidas. Andrew Gilmour esteve no Níger e contou que todos os migrantes e refugiados, independentemente do género e da idade, foram violados, muitos de forma repetida, e torturados com choques elétricos. Contaram ainda a técnica de resgate que consiste em forçar a vítima a ligar aos familiares e depois sujeitar estes aos gritos do torturado. Gilmour afirma que os torcionários são contrabandistas, traficantes, membros das milícias e funcionários do Estado.