Um em cada quatro falha tratamento por falta de dinheiro

Um em cada quatro portugueses com dor crónica não segue o tratamento prescrito pelos médicos por falta de dinheiro, indica um estudo da revista Deco Proteste a publicar na próxima semana.
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Segundo o estudo, a que a Lusa teve acesso, os doentes queixam-se da rápida perda de eficácia dos fármacos prescritos, sublinhando o custo elevado do tratamento, que ronda os 77 euros/mês, a que se junta muitas vezes a despesa com o transporte até à unidade de saúde ou hospital e o preço das consultas privadas.

Ainda assim, mais de metade (seis em cada 10) dos inquiridos disseram ter seguido o tratamento para a dor no último ano.

Mais de metade tomou medicamentos, na maioria receitados pelo médico de família ou por um especialista. Este é também o principal prescritor de fisioterapia, seguida por 11 por cento (%) dos portugueses como tratamento principal.

De acordo com os dados recolhidos pela Deco Proteste, os custos apurados para o Estado e para as empresas são "de grande dimensão", uma vez que a dor mal controlada é a causa de cerca de 11 milhões de faltas ao trabalho todos os anos.

Um em cada dez doentes crónicos não tem a dor controlada, por falta de tratamento ou porque este é ineficaz, acrescenta.

Os dados indicam que, no último ano, 28% dos portugueses faltaram ao trabalho nove dias em média por sentirem dores.

A amostra do estudo da Deco Proteste, que decorreu entre Janeiro e Março de 2011, abrangeu 2.370 portugueses que responderam ao inquérito, cujos dados foram depois tratados "para assegurar a representatividade por idade, sexo, região e nível de educação", referem os responsáveis pelo trabalho.

Os problemas nas costas e no pescoço são responsáveis pelo sofrimento da maioria das pessoas que responderam ao inquérito. Cerca de metade dos inquiridos revelou dores de cabeça e enxaquecas e quatro em cada 10 dores nos músculos e nas articulações.

Além de Portugal, o estudo foi feito ao mesmo tempo noutros quatro países - Bélgica, Brasil, Espanha e Itália -- por organizações de consumidores e em todos as dores musculoesqueléticas lideram o ranking.

De acordo com o estudo da Deco Proteste, a dor crónica (de forma continua ou persistente por mais de três meses) afecta 27% dos portugueses e um em cada três não tem acompanhamento médico.

"A dor crónica é mais frequente nas mulheres, pacientes com mais de 35 anos e grupos económicos mais desfavorecidos", acrescenta.

Da análise feita pela associação de defesa do consumidor às estruturas existentes para apoiar e tratar estes doentes, sobressaem algumas propostas, designadamente a necessidade de maior formação na área da dor para os médicos especialistas em medicina geral e familiar.

É igualmente sugerido o aproveitamento da capacidade instalada nos agrupamentos de centros de saúde para criar uma consulta multidisciplinar ao nível dos cuidados de saúde primários, envolvendo médicos, psicólogos e fisioterapeutas, e a criação de normas de orientação clínica que apoiem a intervenção terapêutica dos médicos de família.

A diversificação disciplinar da constituição das unidades dor existentes nos hospitais, "geralmente compostas por médicos de apenas uma especialidade, o que limita o arco de intervenção e os resultados dos tratamentos", é outras das propostas.

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