Um disco urbano de histórias simples por Miguel Araújo
Não será piada a um anúncio de televisão até porque são palavras de Miguel Araújo: "Numa época em que existe muita música por atacado - no YouTube ou no iTunes -, o conceito de álbum, para continuar a existir, tem de ter um fio invisível que une as músicas todas." E foi isso que fez neste novo disco.
O cantautor deixou de lado Os Azeitonas e lançou, a 21 de abril, o seu segundo álbum a solo. Depois de "Cinco Dias e Meio", há dois anos, - registado em menos de uma semana, em regime quase caseiro, com Miguel Araújo a tomar para si a execução de todos os instrumentos -, "Crónicas da Cidade Grande" surge num registo mais cuidado, com uma banda por detrás, uma secção de cordas e um naipe de sopros e convidados especiais: Marcelo Camelo, António Zambujo e Inês Viterbo para cantar aquele que é o single do disco "Balada Astral".
E se na complicação da vida não há muitos lugares onde a simplicidade possa intervir, "Crónicas da Cidade Grande" é um disco intimista com canções simples - longe de serem vulgares -, que contam a história de José Faria dos Santos , um homem igual a todos nós, com uma existência "condenada à mediania": nasce, cresce, conhece o amor, tem filhos, conhece o desamor e morre.
Miguel Araújo queria "manter o âmago na voz e na guitarra, e na simplicidade na estrutura das músicas", explicou ao DN.
Esta segunda experiência a solo tem poemas que o músico foi buscar ao baú, alguns de 2005, e só agora ganharam sentido na história contada nestas "crónicas citadinas de coisas banais", disco feito à semelhança "dos livros de histórias curtinhas de António Lobo Antunes ou José Luís Peixoto".
Habituado a compor para Os Azeitonas e também para obras alheias - de António Zambujo, que neste disco tem uma participação na canção Romaria das Festas de Santa Eufémia, e Ana Moura -, Miguel Araújo é o autor de todos os poemas das 13 canções de "Crónicas da Cidade Grande". O processo criativo nunca é sob pressão, "vou fazendo, numa rotina quase diária, não é uma coisa de empreitada", diz, referindo que grande parte das letras até foram acabadas nas viagens dos concertos de Os Azeitonas.
Sendo "Cinco Dias e Meio" disco de ouro, Miguel Araújo poderia ter grandes expectativas para o segundo, mas confessa que as suas não se prendem às "vendas", basta-lhe "sentir orgulho" no seu trabalho. Quanto a sonhos, só se fosse tocar mais no estrangeiro, porque já deu música ao Coliseu do Porto, local onde viu os espetáculos "mais míticos" da sua vida, e também onde vai terminar a digressão de 2014, a 29 de novembro. Neste momento, Miguel Araújo está na estrada. Espetáculo em Lisboa, só a 23 de agosto, em local a anunciar.
O disco tem uma edição especial de CD/DVD com o concerto ao vivo na Casa da Música, no Porto. E conta com ilustrações de Nicolau Fernandes, baixista da banda 2008.