Um disco que abriu as portas aos anos 90
A história pode ter começado numa remistura... Na verdade, a história começa mesmo como consequência da grande revolução que a house (e, logo depois, o acid house) gerou no panorama da música popular no final dos oitentas. O futuro era cool, garrido e... dançava-se. É já sob este quadro de acontecimentos que Andrew Weatherall se senta frente ao tema I'm Losing More than I'll Ever Have, do alinhamento do segundo álbum dos Primal Scream... Tanto mexe e remexe que o tema acaba radicalmente transformado, dessa operação nascendo Loaded, uma espécie de viagem pulsante e hipnótica, de apelo hedonista, com ecos distantes de alma rock e rosto iluminado pela nova música de dança. Nascidos em Glasgow (na Escócia) em 1982, e com primeiros álbuns publicados entre 1987 e 1989, os Primal Scream viam finalmente uma luz diferente a surgir ao fundo do túnel. Seguiram o seu caminho. Reinventaram-se. E criaram um disco que abriu a porta ao som dos anos 90.
Foi já sob o espírito sugerido pela nova forma assim encontrada no âmago de uma canção sua que os Primal Scream se entregaram ao trabalho de escrita de um novo disco. Convém contudo lembrar que esta não era a primeira vez que a descoberta do viço que animava a música de dança era assimilada por uma banda de escola "independente". De resto, e depois de visões marcantes vividas pelos New Order, nomes como os Stone Roses, Happy Mondays ou Soup Dragons ensaiavam cruzamentos semelhantes, aos Primal Scream cabendo depois, em Screamadelica, a criação do álbum que definiu o paradigma de referência deste tipo de entendimento.
A história dos Primal Scream tinha nascido em Leeds, na Escócia, em 1982, mas enquanto o vocalista Bobby Gillespie manteve um trabalho em paralelo como baterista dos The Jesus & Mary Chain (integrava o grupo nos dias do histórico Psychocandy), a sua banda não descolou... Em 1986, concentrou finalmente todas as atenções nos Primal Scream e pouco depois, já em 1987, chegava o álbum de estreia Sonic Flower Groove (no qual o grupo vincava uma admiração por heranças pop dos sessentas).
Todavia, foi ao som de Screamadelica que o nome do grupo ganhou projecção além do mapa dos fenómenos indie britânicos na segunda metade dos anos 80. Colaboraram nomes como os The Orb, além do já referido Andrew Weatherall, pelas canções passando fragmentos e samples que cruzam nomes como Brian Eno ou o pastor Jesse Jackson (que se escuta em Come Together)
O disco assinalou também um tempo de abertura de atenção da editora Creation (onde militavam) a toda uma nova realidade revelada na sequência da revolução que a música de dança viveu depois de 1987/88.
Depois de Screamadelica, os Primal Scream tornaram- -se num dos nomes maiores do panorama indie britânico. Voltaram a escrever páginas da história pop/rock ao editar Vanishing Point, em 1997. Mas nunca mais repetiram o momento que Screamadelica criou em torno do seu nome em 1991. Há precisamente 20 anos.
A assinalar os 20 anos do lançamento de Screamadelica, os Primal Scream editam uma edição comemorativa que junta ao álbum um segundo CD com o Dixie Narco EP, originalmente lançado em 1992. O álbum terá também reedição no formato de vinil.