Um dinossauro estranho descoberto em África
Uma equipa de paleontólogos norte-americanos, chefiada por Paul Sereno, apresentou, na quinta-feira, o esqueleto reconstituído de uma nova espécie de dinossauro saurópode, um herbívoro quadrúpede, que viveu há 110 milhões de anos no Níger.
O Nigersaurus Taqueti, como foi baptizado, é já uma estrela sobretudo pelo seu aspecto invulgar: a revista National Geographic de Dezembro irá publicar um artigo intitulado "Dinossauros Bizarros", cuja capa é a fotografia do animal reconstituído. Com um comprimento de 13 metros, este primo mais novo do conhecido Diplodocus, apresenta um focinho com narinas externas não retrácteis, que mais parecem um aspirador; mandíbulas que funcionam como tesouras de 30 centímetros, encimadas por uma fileira de 500 dentes, muitos deles para substituir a dentição perdida ou gasta; e um crâneo quase translúcido.
"O Nigersaurus Taqueti ganha, sem sombra de dúvida, o recorde do Guinness no q ue respeita ao número de dentes de substituição", garantiu Paul Sereno, na conferência de apresentação pública da nova espécie de dinossauro.
Graças a um scanner de tomografia computorizada, usado sobretudo na medicina, os paleontólogos conseguiram também ver o interior do crâneo e, a partir dele, reconstituir a postura do animal. E encontraram uma nova surpresa: ao contrário da maior parte dos outros dinossauros da colecção do museu, a cabeça do Nigersaurus apontava directamente para o chão. "Era incapaz de levantar a cabeça acima do nível do dorso e deveria parecer-se mais com uma vaca do que com uma girafa, apesar do seu longo pescoço", explicam os cientistas.
A coluna vertebral , constituída mais por vazios do que por matéria óssea, é outra das bizarrias morfológicas deste dinossauro. As vértebras são de tal modo finas que é difícil imaginar como poderiam resistir às tensões do dia-a-dia. "Apesar disso, sabemos que funcionam perfeitamente", concluiu Jeffrey Wilson, outro dos membros da equipa de pesquisa.
Esta última expedição liderada por Paul Sereno e financiada pela National Geographic Society, pela fundação David e Lucile Packard e pela Universidade de Chicago conseguiu reunir cerca de 80% do esqueleto do Nigersaurus Taqueti, assim chamado em honra do paleontólogo francês Philippe Taquet, o primeiro descobridor do animal em 1976.
Numa campanha científica anterior, em 1997, um outro francês Didier Dutheil, também membro da equipa de Sereno, tinha encontrado o crâneo do animal. Os primeiros fósseis datam, contudo, dos anos 50.
Os fósseis originais, o esqueleto reconstituído e o crâneo podem ser vistos pelo grande público, desde quinta-feira, no Museu da National Geographic, em Washington.|- V.M.