Um dia sem açúcar. Aceita o desafio?
Se estiver disposto a aceitar este desafio, não poderá consumir bolos, doces, bolachas, cereais, refrigerantes ou bebidas alcoólicas nesta quarta-feira. Também terá de esquecer o açúcar no café, no chá ou no galão.
É o Núcleo de Estudos de Diabetes Mellitus (NEDM) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) que lança o repto, a propósito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinala nesta quarta-feira, sob o tema "A família e a diabetes".
"Quer no âmbito familiar quer na sociedade em geral, as pessoas devem experimentar o que é ser diabético, como é o dia-a-dia destas pessoas, quais as suas limitações. Uma delas é limitar o consumo de açucarados, de hidratos de carbono e de açúcar de forma direta", explica ao DN Estevão Pape, coordenador do NEDM.
De acordo com os dados do Observatório da Diabetes em Portugal, há pelo menos um milhão de pessoas com diabetes no país, metade das quais não sabe que tem a doença. "Se os portugueses aceitarem fazer esta experiência, vão ver como vive o vizinho do lado", sublinha o internista.
"Desafiamos a comunidade em geral, dos dirigentes aos mais simples cidadãos, pelo menos durante um dia, a não consumirem açúcar, alimentos açucarados e produtos que provoquem o aumento da glucose no sangue", refere Estevão Pape, destacando que o ideal é aproveitar o balanço e "levar este hábito para o futuro".
A diabetes, explica, "é uma disfunção metabólica que provoca por si só um aumento de açúcar no sangue, o que tem consequências para a saúde, nomeadamente risco cardiovascular", como o enfarte agudo do miocárdio ou a angina de peito, insuficiência renal ou cegueira. Quem tem diabetes e não controla o açúcar no sangue "vai ter seguramente um evento cardiovascular, um problema nos olhos ou o pé diabético".
É doce, viciante, dá uma sensação de bem-estar e está escondido numa boa parte dos alimentos que tem na despensa. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o açúcar é um dos maiores venenos do século XXI.
De acordo com as estatísticas, cada português consome, em média, 16 pacotes de açúcar por dia, o que corresponde a três quilos por mês. Ao final de um ano, são quase 35 quilos.
Considerando que este é "o principal inimigo" da saúde, a nutricionista Sónia Marcelo lançou, em 2017, o livro Guerra ao Açúcar. Sobre o desafio proposto pelo NEDM, a autora do blogue Dicas de Uma Dietista considera que "é uma ótima forma de as pessoas começarem a habituar-se a ingerir menos açúcar, apercebendo-se de que não é tão difícil assim retirá-lo da alimentação".
Na opinião de Sónia Marcelo, os portugueses estão cada vez mais sensibilizados para os perigos dos doces, "mas muitas vezes não sabem fazer as escolhas acertadas". Refere-se, por exemplo, ao facto de por vezes se guiarem pela designação de 0%, o que nem sempre quer dizer que o alimento não tem açúcar. "Há situações em que isso diz respeito à gordura. Além disso, há alimentos que não têm sacarose, mas têm outros açúcares."
"Quem toma o pequeno-almoço fora de casa, em vez de pedir um bolo, deve optar por um pão integral ou de centeio com queijo ou fiambre", sugere a dietista. Para acompanhar, café, chá ou galão sem açúcar. "Evitar o sumo de laranja natural, porque tem elevado teor de açúcar."
Para o lanche a meio da manhã, Sónia Marcelo sugere uma gelatina sem açúcar, acompanhada por frutos secos. Já para o almoço, propõe uma sopa de legumes e um prato de carne ou peixe com uma porção de hidratos de carbono e vegetais. Se desejar sobremesa, pode optar por uma peça de fruta, que contém açúcares naturais.
Ao lanche, a sugestão é um iogurte natural sem açúcar com uma ou duas colheres de flocos de aveia e sementes de chia ou linhaça. Se sair tarde do trabalho, pode repetir a gelatina e os frutos secos. "O jantar pode ser semelhante ao almoço", aconselha.
Se seguir este plano, "terá apenas os açúcares presentes nos alimentos, nomeadamente no leite e na fruta, mas não tem açúcares adicionados". A chave, prossegue, está no planeamento das refeições, porque é na busca de alimentos rápidos que reside uma boa parte do problema.
"Numa fase inicial, as pessoas vão sentir falta do açúcar. Existirá necessidade do doce. Mas isso pode ser contrariado com gelatina, um pedaço de chocolate negro ou um rebuçado sem açúcar, por exemplo. Trata-se de uma alteração de hábitos. Se insistirem durante uma, duas, três semanas, já não vão lembrar-se das bolachas", destaca Sónia Marcelo. Com planeamento, é possível abdicar do açúcar no dia-a-dia. "E deixá-lo apenas para ocasiões especiais."