Dizia ontem o primeiro-ministro de um país que lhe deu a maioria absoluta: "É necessário assegurar que quer as famílias quer as empresas têm condições de enfrentar esta situação e é nisso que estamos a trabalhar. E segunda-feira é já quase depois de amanhã." Reagia assim ao desassossego daqueles que já perderam mais de um salário à custa da inflação, parte dele em impostos cobrados pelo Estado, e que - imagine-se! - consideram urgente encontrar a saída do buraco para o qual foram empurrados pela covid e pelas medidas de contenção da pandemia, seguida de uma guerra, e perante a impassividade de um primeiro-ministro que durante seis anos não assinou uma reforma que desenvolvesse o país..Nada demais para um governo que se habituou a adiar o que é urgente de acordo com a sua conveniência, gerindo com toda a tranquilidade anúncios de medidas complexas e resultados questionáveis - as creches gratuitas para todos, a que afinal só alguns conseguirão ter acesso; os planos de contingência contra o caos no SNS, que nada mudaram ou resolveram; os pacotes de apoio que por burocracia e falta de esclarecimento ficam por entregar a quem deles precisa... -, independentemente da aflição de famílias e empresas.."A força vem da calma", lembrou ontem António Costa, antes de dar um pezinho de dança com o povo moçambicano, sorriso despreocupado e sem dizer palavra sobre um plano cuja emergência aparentemente é relativa. Afinal, segunda-feira os problemas dos portugueses ainda cá estarão..Assim se pode explicar que o governo socialista, que em sete meses amealhou mais 2 mil milhões de euros em receita fiscal do que previa conseguir no ano inteiro - foram mais de 5 mil milhões de euros que saíram dos bolsos dos portugueses diretamente para os cofres do Estado, até julho -, continue a culpar Bruxelas pelo que não faz..Desde abril, dois meses depois de começar a guerra na Ucrânia, que a Europa dispensa os países-membros de pedir para alterarem a taxa de IVA de bens e serviços. O que significa que o gás e a luz podiam estar há meses a ser taxados a 6% ou a 12% (taxas mínima e intermédia), em vez de empresas e famílias entregarem quase 1 euro a mais por cada 3 euros cobrados pela companhia, mantendo o IVA a 23%. Imagino que não haveria muita gente a sofrer se se subisse a taxa na reparação de velocípedes a troco de baixar a energia para a fasquia mínima de imposto, por exemplo. Claro que não rendia tanto ao Fisco, mas os portugueses certamente agradeciam o alívio. Como agradeceram os espanhóis... mas a esses, provavelmente, a força não vem da calma.