Um contador de histórias
O filme The BFG é dedicado à memória da sua argumentista, Melissa Mathison (falecida no ano passado, contava 65 anos). Escusado será dizer que a excelência do seu trabalho ficará indissociavelmente ligada ao filme (que, aliás, lhe é dedicado). Há mais de três décadas, a relação de Mathison com Steven Spielberg e a produtora Kathleen Kennedy teve outro momento emblemático em E.T. - O Extraterrestre, que ela também escreveu. A sua estreia apoteótica ocorreu em Cannes, na edição de 1982 - tanto Kennedy como Spielberg recordaram, agora, na conferência de imprensa de The BFG, essa passagem pelo festival como um dos momentos altos da sua carreira. São laços que importa referir e valorizar, quanto mais não seja porque, para além das emoções envolvidas (bem patentes na evocação de Spielberg e Kennedy), deparamos, assim, com dois valores essenciais e interligados. A saber: um elaborado conceito de produção e uma permanente exigência na qualidade da escrita para cinema. Quando vemos, agora, muitos filmes de "super--heróis" construídos a partir de argumentos banalmente instrumentais, sem qualquer consistência narrativa, apenas servindo (?) para convocar os departamentos de efeitos especiais, não podemos deixar de celebrar a arte de contar histórias que sustenta um filme como The BFG. Da euforia de Os Salteadores da Arca Perdida (1981) à gravidade de A Ponte dos Espiões (2015), Spielberg é esse contador de histórias que, mesmo utilizando os mais sofisticados recursos técnicos, visa sempre as qualidades particulares de uma narrativa que sabe pensar a sua relação (cria- tiva e plural) com o espectador. Por isso, devemos dar-lhe crédito quando ele diz que, na sua cabeça, não há diferenças significativas entre filmes "ligeiros" e filmes "sérios".