Um conflito sem fim que tem de acabar
O assassinato de uma jornalista palestiniana-americana na Cisjordânia, quando fazia a cobertura de mais um confronto naquele território ocupado, resgatou o conflito israelo-palestiniano do quase esquecimento a que estava votado desde a invasão da Ucrânia. As impressionantes cenas do funeral, com a polícia israelita a carregar sobre as pessoas que o acompanhavam e até sobre quem carregava o caixão, aumentaram a indignação.
Em visita, esta semana, à região, constato a dureza da vida de quem vive em campos de refugiados, foi expulso de sua casa ou está em risco de o ser, para que seja expandido mais um colonato ou instalada uma zona militar.
Do lado israelita, compreendem-se também as preocupações com a segurança. Sofrer ataques frequentes de rockets lançados da Faixa de Gaza, ou atentados terroristas, inflama as tensões e gera uma obsessão securitária.
Nas reuniões com os governos de ambos os lados, exprimem-nos as suas preocupações. Argumentos que parecem fazer sentido, mas não escondem que uma das partes está em situação de domínio sobre a outra. O primeiro-ministro palestiniano manifesta-se de mãos atadas. Não controla uma boa parte do território e a situação política da Autoridade Palestiniana é periclitante. Com eleições legislativas e presidenciais sucessivamente adiadas (as últimas foram há 15 anos), o governo goza de cada vez menos legitimidade. É verdade que Israel não tem permitido eleições em Jerusalém Oriental, que devia ser a capital da Palestina. Mas é também óbvio que só com a relegitimação política será possível encontrar soluções para o conflito.
Soluções que Israel também não tem conseguido encontrar. Alguns consideram que o aumento das medidas de segurança e muros nos territórios ocupados pode permitir alguma estabilidade em Israel. Não é essa a minha conclusão, depois de observar o que se passa na Cisjordânia (já para não falar do território dominado pelo Hamas em Gaza). Ou a situação explosiva em Jerusalém e nos territórios ocupados.
A frágil coligação que sustenta o governo de Israel, juntando partidos tão diferentes, da direita bem à direita, centro, esquerda e árabes israelitas, não tem condições políticas para grandes avanços, apesar de serem tão necessários. Constitui, ainda assim, uma evolução bastante positiva relativamente à política belicista de Benjamin Netanyahu.
Só avanços no sentido da existência de dois Estados, tal como negociado nos Acordos de Oslo, podem permitir encontrar uma solução de paz e estabilidade a longo prazo, até porque um só Estado e direitos iguais para todos é algo inimaginável de alcançar.
Na prática, essa possibilidade tem-se tornado progressivamente mais difícil, devido à construção de mais colonatos na Cisjordânia. Politicamente, a deslocação da sociedade israelita para a direita também torna essa possibilidade mais remota.
No meio da incapacidade de diálogo entre governos, milhões de israelitas e palestinianos vivem sob clima de insegurança e medo, muitos em condições de pobreza que a paz permitiria eliminar.
É, por isso, indispensável parar pelo menos a degradação das condições para a paz. Dar espaço à construção de uma paz, que, confesso, me parece longínqua. Vai ser precisa muita pressão internacional e uma grande mudança na opinião pública israelita, manietada durante muitos anos pela direita radical, para que a ocupação recue e a segurança chegue a Israel e à Palestina através da paz.
O anúncio da subida das taxas de referência pelo Banco Central Europeu, com o objetivo de combater a inflação, levou à subida dos juros da dívida pública de alguns países, incluindo Portugal. O BCE não hesitou. Marcou uma reunião de emergência e admitiu acelerar a criação de um novo instrumento para assegurar que os juros da dívida pública não sobem de forma desequilibrada.
Eurodeputado