Um cavaleiro inglês em berlim

Está à frente da Filarmónica de Berlim desde 1999 e já soma 30 anos de carreira nos discos. Abre 2011 com uma 'Sinfonia N.º 2' de Mahler.
Publicado a
Atualizado a

Não é primeira vez que um músico filho de Liverpool brilha na Alemanha. Em inícios dos anos 60 quatro rapazes de cabelo então bem aparado fizeram a "rodagem" em bares de Hamburgo antes de se revelarem ao resto do mundo com canções que acabariam registadas na história da música do século XX. Simon Denis Rattle (n. 1955) era ainda uma criança nos dias em que os Beatles tentavam a sua sorte em Hamburgo. Mas, hoje, o respeitado maestro titular da Orquestra Filarmónica de Berlim (OFB) é um dos exemplos mais notáveis de reconhecimento mundial para um cidadão de Liverpool que, como os fab four, levou a sua música bem para lá das fronteiras da sua cidade.

Na verdade, Berlim não foi a primeira cidade a acompanhar com regularidade o trabalho deste maestro. Depois de estudar piano e violino e de tocar como percussionista em orquestras, chegou a Londres em 1971 para continuar os seus estudos na Royal Academy of Music, datando de então os seus primeiros trabalhos como maestro.

Caminhou depois entre cidades inglesas, começando como assistente na Bournemouth Symphony Orchestra em 1974, passando depois pela Royal Liverpool Philarmonic e, mais tarde, pela City of Birmingham Orchestra. Foi à frente desta última que ganhou notoriedade mundial, conquistando para a orquestra um estatuto de maior proeminência, que sublinhou através de sucessivas edições discográficas. A visibilidade que ganhou com a orquestra de Bir- mingham permitiu-lhe, em 1999, ser escolhido pelos músicos da OFB como seu novo maestro titular (lugar que tomou três anos depois), sucedendo assim, no posto mais desejado para um qualquer maestro, ao ilustre Claudio Abbado (que por sua vez sucedera a Karajan).

O seu trabalho à frente da orquestra berlinense, que tem como sede o belíssimo complexo de edifícios habitualmente designado como Philharmonie, tem transcendido o espaço estritamente musical do trabalho habitual de um maestro. Teve um papel na transformação da orquestra numa fundação. E data também deste seu período frente à orquestra a aposta em novas formas de comunicação, nomeadamente a abertura de um programa de transmissões em directo de concertos pela Internet, através do Digital Concert Hall. A história do relacionamento de Rattle com Berlim conheceu já momentos de turbulência. O que contudo não o impediu de ver renovado o voto de confiança dos músicos que em 2008 decidiram prolongar o seu contrato como maestro titular até 2018.

Mais longa que a sua ligação à orquestra berlinense é a sua presença como um dos rostos de maior protagonismo no catálogo da EMI Classics, que de resto celebra agora os 30 anos do seu relacionamento com Rattle. Ao longo deste período gravou cerca de 70 discos, muitos distinguidos com prémios, entre os quais três Grammys (um por Um Requiem Alemão, de Brahms, em 2007, outro pela Sinfonia dos Salmos de Stravinsky, de 2008, e um terceiro por uma Sinfonia Nº 10 de Mahler, de 2000).

Armado cavaleiro pela Rainha Isabel II em 1994 (respondendo desde então como Sir Simon Rattle), tem sido um importante divulgador da música do século XX. E está atento ao presente. De resto, ainda recentemente gravou mais uma obra do jovem britânico Thomas Adès. O sorriso que lhe conhecemos (e que vemos em palco quando dirige) transparece na música que dirige. Os dotes como comunicador são claros. É um homem do presente, atento às potencialidades das novas formas de comunicação. E um exemplo de uma forma de lidar com a orquestra (e os seus espectadores) distante da postura autocrática de grandes chefes de orquestra de outros tempos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt