Um casamento, o México e o Maio de 68 no Estoril

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Cinema. Festival animado por 'estrelas' europeias

Frears convidado para casamento e Pitt e Garrel 'atacados' por fãs

Silêncio. As entradas e saídas dos filmes não são suficientes para perturbar a calma que reina no Centro de Congressos do Estoril. Porém, de repente, como se alguém gritasse "Sous le pavés, la plage" ou "É proibido, proibir", uma multidão de fãs ataca os "sonhadores" de Bertolucci, Michael Pitt e Louis Garrel. Com uma diferença. Em vez das palavras de ordem do Maio de 68, a expressão ecoada pela sala foi: "dá-me um autógrafo, por favor?".

No entanto, a escassez de azáfama não foi sinónimo de falta de emoções. Stephen Frears, que antes de alguém lhe fazer uma pergunta fez questão de dizer sempre "surpreenda-me", acabou por ficar boquiaberto com a resposta de um admirador. "Tenho que lhe agradecer, porque foi quando vimos um filme seu, o High Fidelity , que eu e a minha noiva descobrimos o nosso amor", atirou o fã.

O realizador de A Rainha reagiu perguntando: "Quando é o casamento?". Numa altura em que os sorrisos já se ouviam por toda a sala, o "noivo" fez questão de surpreender ainda mais Frears: "O casamento é em Março e você está convidado".

Se dentro das salas as conversas com realizadores e actores, e os encontros de críticos de cinema têm sido animadas discussões, fora das salas tudo muda.

As exposições artísticas do festival têm visitas mais esporádicas, o que faz com que as obras possam ser vistas sem o atrapalhar das silhuetas ou do ruído humano. Na exposição O México fotografado por Luis Buñuel, uma pequena sala mostra várias fotografias que o realizador espanhol tirou durante a sua aventura mexicana. O cor-de-laranja das paredes contrasta com o preto-e-branco das 80 fotografias dispostas pela sala de uma forma rígida e funcional.

Mas o contraste não é só cromático. A realidade das fotos e a forma como são ali apresentadas em muito se distanciam do surrealismo de Buñuel. Muitas daquelas imagens foram os esboços dos planos dos filmes rodados no México. O que justifica o formalismo da exposição, pois nesta fase Buñuel impôs um grande realismo nas filmagens, longe dos traços surrealistas de películas como Um Cão Andaluz.

Além das fotografias, quem entra na exposição ouve logo o desconcertado som que sai de uma sala escura. São palavras em espanhol. Trata-se do documentário de Javier Espada e Gaizka Urreski, ali exibido em memória de Buñuel. Quem ousar entrar no escuro pode conhecer mais um pouco de Buñuel, nunca visto em Portugal. Nesta biografia, estão incluídas filmagens inéditas do realizador espanhol durante a sua passagem pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa).

As exposições fotográficas não se ficam por aqui. Quem entre ou saia do Centro de Congressos tem que conviver com a imponência das fotografias de François- Marie Banier.

Um olhar penetrante de Samuel Beckett , ou a pose de um anónimo decoram o gigantesco átrio do Centro. Quem passeia pelo espaço vê que tudo foi feito "em grande". Algo que não espanta num "palco" que num período de poucas horas foi pisado por figuras como Deneuve e Bertolucci. - R.P.A

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