Um casal empenhado em humanizar o nascimento

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À sétima gravidez, Ana Cristina Torres fez uma cesariana. Não gostou da experiência e gostou ainda menos de ouvir os médicos dizer que nunca mais voltaria a ter um parto pélvico. "Porquê? Ficámos com muitas dúvidas e começámos a fazer pesquisas." A Internet é um mundo de perguntas e respostas e depressa Ana Cristina e o marido Américo estavam em contacto com as "Amigas do Parto", do Brasil, com as espanholas que gritam "El Parto es Nuestro", com as holandesas que há muito conquistaram o direito ao parto humanizado, com as inglesas que começam a ver as reivindicações atendidas. "E nós?"

"Começámos a perceber que deveríamos questionar muitos dos procedimentos que nos habituámos a ter como necessários, como rotina num parto. Serão mesmo os melhores?", pergunta Américo. Procedimentos: uma bata, uma tricotomia (rapagem dos pelos públicos), um clister, uma cama em posição horizontal, pernas colocadas nos estribos, luzes fortes sobre a cara, monitorização electrónica (CTG), ruptura precoce das membranas, introdução de oxitocina sintética (para acelerar o processo), epidural (analgésico), episiotomia (corte do períneo), eventualmente uma cesariana. Procedimentos que se repetem, quase sempre sem perguntar a opinião à pessoa mais interessada. Sem sequer lhe dar uma explicação. E mais, diz Cristina: "Todo o ambiente hospitalar é prejudicial ao parto. É um lugar estranho e, como tal, sentimo-nos inibidas. Aumenta o stress, logo, aumenta a adrenalina e diminui a oxitocina." E depois há todo o lado do tratamento dado às grávidas e acompanhantes, a maneira como se fala, aquilo que é dito.

Nos últimos anos, Ana Cristina e Américo deram forma à Associação Portuguesa para a Humanização do Parto (Humpar), oficializada desde Fevereiro e já com 113 sócios. "É preciso mudar as mentalidades", diz ele. "Neste momento, o mais importante é informar as pessoas." "Pensei muito nas minhas filhas e nas minhas noras", diz ela. "Iria sentir-me culpada se, sabendo a verdade, não fizesse nada." A Humpar não defende o parto em casa a qualquer preço, mas defende o parto humanizado e seguro.

E foi por isso que, depois de um oitavo parto ainda num hospital (embora já com outra preparação), à nona gravidez, com 40 anos e sem nenhum medo, Cristina quis dar à luz em casa. Foi em Julho do ano passado. O sol do fim da tarde entrava pela janela da cozinha e batia ligeiramente no sofá onde ela se atarefava em respirar e relaxar. "É maravilhoso", conta, embevecida. "Em casa, o nascimento é uma festa, estamos rodeadas pelas pessoas de quem mais gostamos, temos as nossas coisas à mão." Vinte minutos depois do nascimento de Joseph Benjamin, estava rodeada por todos os filhos, tomou um duche na sua banheira, deitou-se na sua cama e dormiu com o seu bebé a noite inteira. MJC

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