Um ano depois, fundação do ex-Presidente inicia reestruturação
"É evidente que as coisas não são tão fáceis." Falando ao DN, Carlos Monjardino, administrador da Fundação Mário Soares, reconhece assim que a morte de Mário Soares, há precisamente um ano, teve um efeito no funcionamento da fundação que tem o nome do ex-Presidente da República e que este criou em setembro de 1991.
Os mecenas são agora menos e portanto, segundo Carlos Monjardino - ele próprio presidente de uma das maiores fundações portuguesas, a Fundação Oriente -, do que trata agora, na Fundação Mário Soares, é de "iniciar uma reestruturação" do seu funcionamento. O conselho de administração - onde a presidente interina é Isabel Soares, filha do fundador do PS - deverá, segundo Monjardino, reunir-se já na próxima semana. E depois será convocado o Conselho Geral para eleger os novos órgãos sociais, processo que deverá estar concluído no final de fevereiro.
A "reestruturação", acrescenta este administrador da FMS, passará por "focar" a atuação de uma instituição que, no seu entender, se "dispersa um bocado" em atividades que na verdade podem ser consideradas para lá da sua missão principal. "A fundação não tem de fazer tantas coisas" e o tal "focar" de atividades poderá passar por, por exemplo, transferir para outras instituições - a Torre do Tombo, por exemplo - espólios recebidos e que não são "essenciais" (mas cuja gestão e organização custa dinheiro). "Temos de tratar como deve ser aquilo que Mário Soares deixou de seu", afirma Monjardino, sublinhando também a necessidade de manter na FMS os espólios de personalidades importantes da I República, de companheiros de Soares na luta contra a ditadura, ou os que lá estão de protagonistas dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas.
A situação da FMS ter-se-á complicado com a morte de Soares mas os relatórios de contas publicados no site da fundação, relativos a 2014, 2015 e 2016, revelam que o apertar do cinto já tinha começado bastante antes, tanto por via de redução de apoios públicos como por diminuição de financiamentos privados.
Em 2014, por exemplo, a FMS recebia subsídios à exploração do empresário Lalanda e Castro - que deu emprego a José Sócrates depois de este deixar de ser primeiro-ministro - não só em nome pessoal mas também em nome das suas empresas, na ordem dos 15 mil euros. Sócrates foi preso no final de 2014 e em 2015 os apoios de Lalanda e Castro - também arguido na Operação Marquês - desapareceram. De um ano para o outro, no total, a fundação deixou de receber quase 150 mil euros em subsídios à exploração, passando de quase meio milhão de euros (2014) para 364 mil (2015). Além de Lalanda e Castro, desapareceram da lista mecenática a Fundação Ilídio Pinho e o Instituto Camões. Em 2014, o resultado líquido foi negativo (103 mil euros) e em 2015 o valor mais do que duplicou (para 210 mil euros). O relatório relativo a 2015 já falava numa "progressiva diminuição" das receitas de mecenas e doadores.
Em 2016, os apoios privados continuaram a diminuir e uma das perdas veio do Novo Banco. Tinha dado cem mil euros em 2015 e deixou de dar no ano seguinte. O resultado líquido continuou a ser negativo e a piorar (passou de 210 mil euros para 283 mil euros). O parecer do Conselho Fiscal admitia que a situação do país tornava "cada vez mais difícil a manutenção de níveis de atividades como os desenvolvidos até agora".
Pode a fundação fechar? Carlos Monjardino garante ao DN que não é isso que a administração quer. "Estamos todos a fazer um esforço para que funcione."