O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (PS), faz um balanço positivo do primeiro ano de mandato, mas os partidos da oposição consideram que o executivo não respondeu às questões estruturais da cidade e criticam, em especial, as áreas distinguidas pelo autarca.."O trabalho, neste ano, avançou de forma rápida, demos importantes passos na cidade de Lisboa relativamente à mobilidade", vincou ao DN o presidente da Câmara de Lisboa, acrescentando que "Lisboa vai receber, nos próximos dias, os primeiros de 250 autocarros e que vão renovar cerca de um terço da frota da Carris"..Fernando Medina explicou que a chegada dos novos autocarros "vai dar um contributo enorme à mobilidade", significando, por isso, "menos atrasos, maior conforto e mais segurança" para os lisboetas..O final do primeiro ano também ficou marcado pela ideia da criação de um passe metropolitano com valor fixado nos 30 euros dentro de Lisboa - 40 euros para a restante Área Metropolitana de Lisboa -, ideia que Medina espera que contribua para reduzir o número de carros na capital. A proposta, que Medina deu a conhecer no início de setembro, previa que o próximo Orçamento do Estado contemplasse um novo sistema de passes sociais em todos os municípios da Área Metropolitana de Lisboa..Na área da habitação, o autarca de Lisboa disse que já foram assinados os "primeiros programas de renda acessível" e os "primeiros acordo com a Segurança Social" para reabilitar fogos..Também foi feita a atribuição de "600 casas de habitação social", destinadas, em particular, a moradores do centro histórico, e a reabilitação de vários imóveis da câmara "para responder às necessidades de habitação" dos lisboetas..Na área da educação, o socialista destacou que "já não há refeições servidas nas escolas básicas em material de plástico" e que o autarca considera ter "um impacto no orçamento e na vida de muitas famílias"..Os desafios para os próximos três anos também estão traçados e passam por "continuar a trabalhar na mobilidade e na habitação" da cidade, nomeadamente na "atribuição de mais casas por parte da Câmara de Lisboa"..Fernando Medina já afirmou por várias vezes que deseja continuar como presidente da autarquia da capital e leva essa pretensão para as próximas eleições autárquicas. "Naturalmente estamos a trabalhar para essa ambição", rematou..Bloco não vai "fazer futurologia" sobre novo acordo nas próximas eleições.Fernando Medina perdeu a maioria absoluta na Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas do ano passado e firmou um acordo para governar a cidade com o BE, atribuindo os pelouros da Educação e Direitos Sociais ao candidato bloquista, Ricardo Robles, para manter o executivo socialista à frente do município da capital..Ricardo Robles renunciou, contudo, ao mandato nove meses depois, na sequência de um caso que envolvia a compra de um imóvel em Alfama, e foi substituído por Manuel Grilo..O vereador Manuel Grilo disse ao DN que tem como prioridade manter "a dinâmica imprimida" pelo ex-vereador Ricardo Robles nas áreas da Educação e Direitos Sociais, acrescentando que faz uma avaliação do primeiro ano "globalmente positiva, numa conjuntura extremamente complicada"..Apesar de ter assumido o cargo há pouco mais de um mês, Manuel Grilo identificou "o acesso à habitação" e a mobilidade como "dois problemas muito graves" que a autarquia tem de resolver..Na habitação ainda há muito caminho a percorrer, mas o vereador mostrou-se esperançoso por haver "agora condições legislativas para se começar a ordenar o alojamento local" e ajudar a mitigar o problema..Quanto à mobilidade, "é um problema sobre o qual, aí sim, já foram dados passos mais seguros, mais certos, mais efetivos"..Manuel Grilo saudou a estratégia da Área Metropolitana de Lisboa (AML) para unificar a gestão dos transportes: "O conjunto de transportes tem de ser articulado, esse caminho está a ser percorrido com grande sucesso, todas as perspetivas de equacionar meios de transporte para Lisboa no quadro da AML, por aí passará a solução"..As opiniões já divergem do executivo socialista quando o assunto é a Linha Circular do Metropolitano de Lisboa.."Em relação à Linha Circular, continuamos a entender que seria prioritário expandir a Linha Vermelha para ocidente. Não é a opinião da maioria na câmara e, provavelmente, vai mesmo acontecer primeiro a Linha Circular", criticou, acrescentando que é uma proposta que "não está correta", mas espera que depois desta empreitada se possa avançar para a extensão do Metro de Lisboa para a zona ocidental da cidade..Questionado sobre a intenção de manter o acordo daqui a três anos, Manuel Grilo foi mais ponderado: "É difícil fazer futurologia, três anos são muito tempo e não nos comprometemos com nenhuma posição, vamos trabalhar o mais lealmente possível nestes três anos [com o Partido Socialista]."."Naturalmente, sempre mantendo alguma independência em relação aos aspetos que não fazem parte do acordo, haverá sempre aspetos de alguma tensão, mas que podem ser devidamente resolvidos", rematou..Vereadores de CDS-PP, PSD e PCP unem-se nas críticas à política de transportes.Os partidos da oposição com assento na Câmara Municipal de Lisboa discordam, contudo, da retrospetiva feita pelo presidente do município da capital..A vereadora do CDS-PP Assunção Cristas disse ao DN que "infelizmente, passado um ano", o partido não faz "uma avaliação positiva do executivo". "A questão do trânsito e do estacionamento continua na mesma" e "os problemas do transporte coletivo na cidade continuam sem uma solução de fundo à vista", lembrando que os autarcas do CDS-PP são "grandes defensores da expansão do Metropolitano de Lisboa para a zona ocidental" de Lisboa.."[A Linha Circular] não resolve nenhum problema estrutural ou cria uma alternativa à entrada de carros em Lisboa", considerou, sublinhando que vai, inclusive, "consumir recursos" e "aumentar o número de veículos na cidade"..A autarca lembrou uma moção apresentada pelo CDS-PP, sobre "a prioridade de expansão do Metropolitano de Lisboa para ocidente", que foi "aprovada por unanimidade", mas considerou que ainda não houve "nenhuma capacidade de influência por parte de Fernando Medina para que haja, da parte do governo, alguma mobilização nesse sentido"..Questionada sobre a higiene urbana da capital, a vereadora considerou que as "coisas ainda estão a piorar" e isso mostra "a incapacidade da Câmara Municipal de Lisboa de resolver questões de higiene", uma vez que o turismo não pode ser apontado como causa.."Há outras zonas da cidade sem pressão turística, há é desleixo da Câmara de Lisboa", vincou..Na área da habitação, Assunção Cristas disse "as coisas estão iguais ou piores" e lembrou que o CDS-PP tem "uma posição diferente daquela do município", uma vez que o partido sugere que "tudo o que são prédios do município" possam ser utilizados para arrendamento..Cristas também não deixou de fora a Operação Integrada de Entrecampos, sobre a qual o partido foi "a única força política a votar contra"..Esta operação prevê a construção de 700 fogos habitacionais de renda acessível na zona de Entrecampos, dos quais 515 vão ser construídos pelo município, e de um parque de estacionamento público na Avenida 5 de Outubro..O projeto está orçado em 800 milhões de euros, dos quais cem milhões serão responsabilidade do município, mas Assunção Cristas diz que o projeto não vai beneficiar as famílias lisboetas de classe média.."Não vamos ter habitação para arrendamento a preços moderados, vamos ter escritórios e habitação de luxo a preços muito elevados", considerou..A eficácia do PS para os próximos três anos de mandato também foi colocada em causa e Cristas diz que "é um executivo frágil" e "ficou muito abalado com a questão [do ex-vereador] Ricardo Robles"..A vereadora, que também é líder do partido, considerou, por isso, que "daqui a três anos" o CDS-PP poderá "ganhar a Câmara Municipal de Lisboa"..As críticas também se propagam pelo Partido Social-Democrata e vereador João Pedro Costa fez "um balanço bastante negativo" do primeiro ano.."Fernando Medina está a revelar-se um presidente zangado com Lisboa e a primeira questão [a apontar] é a taxa municipal de Lisboa da Proteção Civil", explicou ao DN..Na mesma linha da vereadora do CDS-PP, o social-democrata apontou que "Lisboa está uma cidade congestionada, com problemas de mobilidade complicados que, em parte, são causados pela própria câmara".."Houve uma cruzada contra o automóvel, sem oferecer soluções alternativas de transporte", considerou, explicitando que o "exemplo mais gritante" foi a autarquia "não assumir como prioridade a expansão da Linha Vermelha para ocidente, deixando uma parte da cidade sem cobertura do metropolitano"..O "caso da Linha Circular, do Infarmed, são bons casos que mostram que quando Lisboa precisou de um presidente não teve" e nem a política de habitação escapou às críticas..João Pedro Costa considerou que "o problema [de habitação em Lisboa] já não são os bairros municipais", mas sim "a habitação da classe média que está a ser negligenciada"..Para uma cidade que "perde 300 mil habitantes desde a década de 1980", a resposta de Medina para "criar um programa de renda acessível, reabilitar sete mil fogos e oferecer por sorteio" é insuficiente para o vereador do PSD..Em consonância com as esperanças do CDS-PP para as eleições autárquicas de 2021, João Pedro Costa disse ao DN que o PSD tem "todas as condições de ter uma candidatura vencedora em 2021".."Cabe-nos fazer o nosso trabalho de casa, para termos um candidato vencedor, da nova geração e que reponha Lisboa numa lógica vencedora", rematou..O PCP, por seu turno, foi mais comedido na avaliação..O vereador comunista João Ferreira destacou "a aprovação da proposta do PCP para a criação do programa municipal de arrendamento a custos acessíveis", que "embora não tenha ainda arrancado em toda a velocidade", é de uma "enorme importância".."Pela primeira vez, a Câmara Municipal de Lisboa assume como compromisso estratégico para o seu património imobiliário a utilização [deste património] em programas de arrendamento a custos acessíveis"..No entanto, a esquerda e a direita unem-se nas críticas à política de mobilidade da cidade..João Ferreira disse que é "incontornável a situação calamitosa em que se encontram os transportes públicos" e apesar de a Carris estar municipalizada, é "incapaz de responder às necessidades da população"..E a Linha Circular também não foi esquecida pela vereação comunista.."É negativo que a câmara, tendo tido oportunidade de o fazer, não tenha rejeitado a Linha Circular. Há um ano, só havia um partido que estava de acordo com a Linha Circular. Esse partido era o PS. Todos os outros partidos estavam contra", lembrou..Na opinião do vereador do PCP, a perda da maioria absoluta do PS com o resultado eleitoral de 1 de outubro do ano passado "criou condições para que na câmara mostrasse a posição da CML sobre essa Linha Circular, optasse antes pelo desenvolvimento da linha noutras zonas que estão mais necessitadas", mas tal "não foi possível, porque o BE se juntou ao PS para manter" esse projeto..As aspirações à câmara não estão esquecidas e João Ferreira quer mostrar que "o PCP é uma força política capaz também e preparada para exercer responsabilidades no governo da cidade".."Se daqui a três anos isso for reconhecido, tanto melhor", rematou.