Um ano com Vhils, Rui Horta e (muitos) outros portugueses
Vhils e Rui Horta. Nenhum deles é músico, mas são eles os artistas associados da Temporada 2015-16 da Orquestra Metropolitana de Lisboa, hoje divulgada por António Mega Ferreira (diretor executivo) e Pedro Amaral (diretor artístico e pedagógico e titular da OML).
Vhils vai ocupar-se do grafismo de toda a temporada, enquanto que Rui Horta irá conceber um espetáculo a estrear no final de outubro em Guimarães (Centro Cultural Vila Flor, dias 30 e 31) e que Lisboa verá quatro meses depois (3-6 março, Teatro São Luiz). Chamar-se-á Cabul e é baseado na peça A Missão, do alemão Heiner Müller (1929-1995). Terá por intérpretes o ator Pedro Gil e a Orquestra Metropolitana (dirigida por Pedro Amaral), que irá tocar em estilo collage duas obras de Morton Feldman (1926-1987): Piano and String Quartet (de 1985) e For Samuel Beckett, do seu último ano de vida. A ideia, segundo avançou Pedro Amaral, passa espacialmente por "cercar" circularmente a orquestra de público, com o ator movimentando-se entre ambas as entidades.
A temporada propriamente dita volta a propor a articulação em três "temporadas" paralelas: Barroca, Clássica e Coral e Sinfónica, tendo por base, respetivamente, o Palácio Foz, o Teatro Thalia e o CCB.
A primeira contém nove concertos e está centrada nas décadas finais da era barroca, com centro de gravidade na obra de J.S. Bach (autor que estará, aliás, em destaque ao longo da programação). Destaque merece a integral dos (seis) concertos para cravo do compositor alemão, percorrida ao longo de três concertos (21 novembro, 12 março, 4 junho), cada qual com o seu solista (e que também dirige do teclado): por ordem cronológica, Fabio Bonizzoni, Cristiano Holtz e Marcos Magalhães. Referência ainda para o recital de cravo solo de Cristiano Holtz (2 abril), para um concerto em que Enrico Onofri é maestro e violinista solista (21 maio) e para um outro com o soprano Ana Quintans como solista em repertório de Purcell (5 janeiro).
Do lado clássico, há 12 concertos entre 26 de setembro e 25 de junho. Neles faz-se mais notada uma tendência já patente na temporada barroca: a intervenção de instrumentistas da OML como solistas: cinco, no total. Dentre eles, destaquem-se os violinistas Ana Pereira e Alexei Tolpygo, que irão tocar, respetivamente, os concertos de Samuel Barber e a Kammermusik Nr. 4, de Hindemith.
Nos conteúdos, há um vetor formado pelas chamadas sinfonias pares de Beethoven (nos. 2, 4, 6 e 8), que serão tocadas, por ordem crescente, respetivamente em outubro, dezembro, abril e maio. Atenção acrescida merece o concerto de maio (dia 14), pois a peça que faz "par" com Beethoven é Jagden und Formen, uma das mais poderosas criações de Wolfgang Rihm.
Menção ainda para a ópera O Doido e a Morte, criação dos anos 90 do compositor Alexandre Delgado, que será dada a 4 de junho, dirigida pelo compositor.
Do lado do repertório coral e sinfónico, há oito concertos, todos eles de grande interesse. O primeiro destaque vai para a apresentação, coincidente com o seu lugar no calendário litúrgico, das oratórias de Natal, de Páscoa e de Ascensão, de J.S. Bach, dirigidas, respetivamente, por três grandes mestres: Leonardo García Alarcón, Nicholas Kraemer e Hans-Christoph Rademann, este, no seu primeiro regresso após uma memorável Oratória de Natal (nem mais!) no CCB, com a Akademie für Alte Musik Berlim, em dezembro de 2007.
Refira-se ainda que os quartetos de solistas nestas obras são integralmente portugueses, sendo de destacar a presença de Ana Quintans na obra natalícia e de Eduarda Melo na pascal.
Mahler estará também em destaque, com a execução das sinfonias 4 (14 novembro) e 5 (12 junho/Concerto do 24.º aniversário), esta última dirigida por Emilio Pomàrico.
Há ainda uma evocação do sesquicentenário de Sibelius (25 outubro), com a Segunda Sinfonia, a mais famosa das sete que compôs, dirigida pelo norueguês Eivind Gullberg Jensen, num programa que inclui ainda o delicioso Concerto em sol M de Ravel, pelo excelente pianista francês Bertrand Chamayou; e a inclusão de Requies (1983-84), do grande compositor italiano Luciano Berio (1925-2003), um in memoriam da sua mulher Cathy Berberian, no Concerto Inaugural da temporada, a 15 de setembro.
Para o fim, deixamos aquele que será o grande destaque de toda a temporada, com data marcada para 7 de fevereiro: um programa que junta a estreia absoluta do Concerto para violino de António Pinho Vargas, escrito para a jovem e já notável portuguesa Tamila Kharambura, e a Nona Sinfonia de Beethoven. Maestro será Garry Walker.
A estes três eixos principais juntam-se as temporadas de música de câmara e a da Orquestra Académica (de alunos da ANSO-Academia Nacional Superior de Orquestra). Na primeira, a novidade é a opção por apresentar agrupamentos fixos de intérpretes, no sentido de criar "corpos" estáveis que permitam maximizar o apuramento artístico. Contam-se no total 24 concertos, quase todos eles com pelo menos uma grande obra do repertório camarístico, de Haydn a Osvaldo Golijov. A segunda tem cinco propostas, com o destaque a ir todo ele para um programa que junta a Quinta Sinfonia de Shostakovitch e o Concerto para Orquestra de Bartók (18-20 março). Sem deixar porém de referir nova interpretação do Concerto em sol M de Ravel, aqui pela maltesa Charlene Ferrugia, que esteve há dois anos a solo no Festival de Gaia (23 e 25 outubro).
O projeto Atelier de Ópera da Metropolitana completa na próxima temporada a trilogia Mozart/da Ponte com a preparação e apresentação das Bodas de Fígaro, com coordenação de Jorge Vaz de Carvalho. A ópera terá quatro apresentações em Lisboa, indo depois a Setúbal e a Sesimbra (janeiro-fevereiro).
A 3 de outubro, a OML toca na Praça do Município a Terceira Sinfonia de Brahms, dirigida por Pedro Amaral. Essa obra faz aliás parte do programa que a OML irá tocar na sua visita à Casa da Música (Porto), marcada para 23 de setembro, num programa que inclui o já citado Requies, de Berio.
Pelo Ano Novo, o já habitual Concerto de boas-vindas passa pelo CCB (dia 1) e pela Meo Arena (dia 3).
Para o final, algo de muito original - Pedro Amaral chamou-lhe "uma aventura": chama-se "O Dia Seguinte" e é um projeto que tem, por agora, duas datas: 27 de setembro e 6 de dezembro (consoante a resposta do público, serão ou não programadas mais). Duas manhãs (11.00) de domingo em que o público (máximo cerca de 100 pessoas por sessão) pode ir ao Teatro Thalia e sentar-se no meio da orquestra ou de roda dela, vivenciando a preparação e interpretação de uma obra completa: o Concerto para clarinete de Mozart (27/9) e a Quarta Sinfonia de Beethoven. Mote é: "Venha ouvir uma orquestra por dentro!"