Um 'outlet' espanhol onde quase só se ouve falar português

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Comércio. Investimento de 40 milhões atrai portugueses

O espaço comercial em Tui dá emprego a 500 portugueses

Não fosse a placa "Espanha" ali ao lado e o novo outlet de Tui, na Galiza, quase pareceria um qualquer centro comercial "luso", tantos são os carros de matrícula portuguesa no parque de estacionamento. E nem faltam centenas de licenciados atrás do balcão de lojas de roupa.

Dentro de dias serão quase 500 os portugueses a trabalhar no local, atraídos por salários 30% a 50% mais no espaço galego do que nas lojas em Portuga, explicou o director do OutleTui, também ele um português de 32 anos.

O espaço abriu portas sexta-feira e os primeiros dias foram de enchente, cabendo aos portugueses uma parte importante das visitas. "É natural, porque têm acesso a marcas que não estão em outlets do País e a preços bastantes reduzidos, na ordem dos 50%. Depois há o emprego, a que este centro dá muita resposta tendo em conta as carências da região", acrescenta Pedro Ribeiro, em entrevista ao DN.

Das 78 lojas que dentro de dias estarão a funcionar em pleno, entre supermercado, zonas de alimentação, bomba de gasolina, lojas de moda e outros consumíveis, são perto de 800 postos de trabalho, dos quais cerca de 500 ocupados por portugueses. O DN constatou que muitos destes empregados de balcão trocaram empregos do género em Portugal, onde recebiam pouco mais de 500 euros, por um trabalho idêntico que lhes vale ao fim do mês quase o dobro. "A diferença está no custo de vida de Espanha e nos salários praticados, as empresas reflectem isso mesmo nos ordenados que pagam", sublinhou Pedro Ribeiro.

Actualmente o centro funciona com 60 lojas abertas ao público, mas dentro de dias estará em plena operacionalidade, o que corresponderá a um total de 13 lojas de marca portuguesa. Na restauração, um dos destaques vai para a 'Tasquinha do Tareco', a primeira aventura do casal de Barcelos, Eduardo e Alice Jesus. "Foi um convite e ao mesmo tempo um desafio, mas os espanhóis estão a gostar da nossa comida", garantiu Eduardo, que no restaurante que instalou no outlet - o primeiro de três investimentos previstos para a Galiza - emprega oito trabalhadores. "Todos portugueses, mas pago mais 30% a cada um do que aos empregados que tenho em Portugal", disse ainda. Francesinhas, cachorros e grelhados são os pratos de eleição dos espanhóis.

Já para o gerente e criador da marca portuguesa Magma, o público espanhol revela ter mais poder de compra, mas é o português que "tem o bom gosto". "Não tem é dinheiro para pagar a sua vaidade, o que é preocupante", diz Hilário Vilas Boas, que em Tui criou oito postos de trabalho. Destes, apenas um é espanhol. "Pagamos mais aos portugueses que temos cá, mas também notamos que estes estão mais motivados. E ainda hoje recebemos currículos, às dezenas todos os dias, de pessoas que querem ter as regalias de trabalhar em Espanha", acrescenta. Face à crise que Portugal vive, Hilário garante que a abertura do negócio em Tui foi uma forma de explorar o negócio. "Temos uma recessão no nosso País e isso obriga-nos a entrar no negócio dos outlet, devido ao excedente que registamos."

Pedro Ribeiro sustenta que os proprietários e lojistas do OutleTui privilegiaram a contratação de pessoas de Tui e Valença, zona onde "há uma grande carência de postos de trabalho". Quanto à escolha de funcionários portugueses teve em conta não só a proximidade geográfica e as afinidades nacionais, mas também a qualificação das pessoas.

"Já estou na Throttleman há quatro anos e foi uma grande oportunidade vir para aqui", confessou ao DN Ana Franco, que aos 30 anos é supervisora da marca, ocupação bem diferente da formação, licenciatura em Inglês-Alemão. "Comecei a tirar o curso já estava na empresa e fui subindo na carreira", admitiu, satisfeita com o movimento da loja de Tui. "Tem sido muito bom. O espanhol tem poder de compra e gosta bastante de moda, mas ainda estamos a ver como funciona este mercado."

O OutleTui, o segundo maior outlet de Espanha e o único da Galiza, resultou de um investimento de 40 milhões de euros do grupo espanhol DG Center Atlântico e dista poucos metros da fronteira portuguesa de Valença. No negócio da moda desde os 16 anos, Pedro Ribeiro recusa a ideia de que o comércio tradicional de Valença venha a ser prejudicado. "Não vendemos nada que os comerciantes de Valença vendam e o que vamos provocar é um maior movimento de pessoas nesta zona", garante.

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