Úlcera que "come" tecido espalha-se em região australiana
A úlcera de Buruli - uma doença que destrói os tecidos e que era considerada rara na Austrália - está a espalhar-se rapidamente na região de Victoria assumindo um carácter endémico, o que levou os especialistas a pedir uma investigação urgente sobre a forma como é contraída e se propaga.
Num artigo publicado no Medical Journal of Australia, esta segunda-feira, vários autores, liderados pelo investigador Daniel O'Brien, da Barwon Health, afirma que os registos de úlcera de Buruli estão a aumentar apenas na área de Victoria, uma vez que não foram detetados casos em Nova Gales do Sul, Austrália do Sul ou na Tasmânia.
Em 2016, houve 182 novos casos de úlcera em Victoria - o maior número até agora registado - disse O'Brien, citado pelo jornal The Guardian.
"Apesar de ser reconhecida em Victoria desde 1948, os esforços para controlar a doença foram severamente prejudicados porque o reservatório ambiental e o modo de transmissão para os seres humanos permanecem desconhecidos", revelou O'Brien, que disse ainda ser "difícil prevenir uma doença quando não se sabe como a infeção é contraída ".
A infeção começa por surgir através de um caroço indolor na pele, que pode ser confundido com uma picada de inseto e desenvolve-se lentamente até que se transforma numa camada de gordura localizada entre a pele e o revestimento que cobre os músculos. A doença espalha-se depois para o resto do corpo, destruindo tecido antes de irromper de novo através da pele na forma de uma úlcera. Alguns dos infetados só se apercebem que sofrem da doença quando a úlcera aparece, altura em que os pacientes dizem sentir dores muito fortes.
O que está a confundir os investigadores é o facto da doença surgir mais frequentemente em zonas de terrenos pantanosos e em países tropicais, sendo mais comum em África. Em Victoria, os casos que surgem têm apresentado maior gravidade.
Paul Johnson, um investigador que estuda a doença desde 1993, acredita que é mais provável que a bactéria que causa a úlcera, a Mycobacterium ulcerans, esteja a ser propagada através de mosquitos e gambás. A equipa de Johnson identificou um grande número de mosquitos nas áreas afetadas e descobriu que alguns carregavam a bactéria, que foi igualmente encontrada nas fezes dos marsupiais.
O cientista acredita que a doença pode estar relacionada com os animais que ficam infetados e contaminam o ambiente através da fezes, e também os mosquitos, e as pessoas estarão a ser infetadas através das picadas de insetos e "talvez diretamente [pelos] gambás". No entanto, podem existir outras formas de transmissão da doença.
Os autores do artigo publicado no Medical Journal of Australia, pedem um financiamento urgente do Governo para investigarem a bactéria e realizarem exames exaustivos aos ambientes onde a doença foi detetada e que incluem a observação dos animais locais e a interação destes com os seres humanos.
"A hora de agir é agora", alertam os cientistas.
Entretanto, as pessoas que vivem nas áreas afetadas são aconselhadas a evitar picadas de mosquitos, a limpar e a cobrir quaisquer cortes sofridos ao ar livre, e a consultarem o médico em caso de dúvidas.