Irlanda abre falência e pede socorro ao FMI/UE
A Irlanda, país outrora conhecido como "Tigre Celta" pela pujança económica aparente, deverá formalizar esta semana o pedido de ajuda financeira junto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE) por estar falida e não ter capacidade para convencer o exterior a vender-lhe crédito a preços razoáveis. Portugal, que tem um problema parecido, torna-se assim no próximo alvo dos especuladores internacionais em dívida soberana, alertam vários especialistas.
A Irlanda é o segundo país da Zona Euro a capitular perante os "mercados" na sequência da crise financeira e económica que começou em 2007. Depois da Grécia, que na Primavera passada foi obrigada a pedir socorro financeiro no valor de 110 mil milhões de euros ao FMI/UE por um prazo de três anos, ontem o conselho dos ministros das Finanças da UE (Ecofin), com o consentimento do Banco Central Europeu (BCE), deu luz verde à Irlanda para fazer o mesmo.
Em comunicado, o Ecofin concorda que o país peça a ajuda especial, mas desde que a use para "salvaguardar a estabilidade financeira da UE e da Zona Euro". Segundo a AFP, o presidente em exercício do Ecofin, o belga Didier Reynders, disse que a verba deverá ser "inferior a 100 mil milhões de euros". O FMI, que já está fisicamente na Irlanda, também saudou a resposta das autoridades europeias e confirmou que está pronto a intervir.
Segundo a edição de ontem à noite da BBC online, o valor a emprestar aos irlandeses poderá oscilar entre os 80 e 90 mil milhões de euros. A linha terá também a duração de três anos, como a grega.
A situação irlandesa é, na origem, bastante diferente da portuguesa: a economia celta foi devastada pela especulação em mercados como o subprime que, por exemplo, afundou um dos maiores bancos do país, o Allied Irish Bank, um banco comercial e de depósitos. Contudo, na prática, ambos os países - Irlanda e Portugal - sofrem de um problema grave de credibilidade perante o exterior, que se manifesta num aperto enorme no acesso ao crédito. Sem dinheiro barato, como aconteceu até ao início deste ano, os bancos portugueses e o Governo não conseguem obter financiamento para a economia, o dinheiro que faz andar as empresas e que, no passado, serviu para criar empregos.
Mais de metade do pacote disponibilizado aos irlandeses (50 mil milhões dos 90 mil milhões previstos) será imediatamente consumido pelos bancos do país.
O pacote total do FMI/UE reservado para ajudar países falidos (cerca de 750 mil milhões de euros, dos quais mais de metade vem da UE) pressupõe, no entanto, várias contrapartidas em matéria de política económica.
A Irlanda, cujo défice público está actualmente em 32% do produto, tem um plano de austeridade violento para reduzir o défice até aos 3% em 2014. O Governo está a preparar um corte do salário mínimo, uma redução em 11% nos apoios sociais e um corte de 200 mil no número de funcionários públicos até 2014. Dublim tem resistido a mexer nos impostos, sobretudo no IRC, a jóia da coroa da sua competitividade, mas há dúvidas se é possível manter o nível actual de fiscalidade.