UE quer álcool com rótulo de calorias. Indústria propõe que fique só online

Ministros da Saúde aprovaram ontem recomendações quanto ao consumo nocivo de álcool. Setor fala em impacto "catastrófico"
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Os ministros da Saúde da União Europeia aprovaram ontem as conclusões do Conselho que "convidam" o setor das bebidas alcoólicas a avançar com uma proposta de autorregulação quanto à rotulagem das calorias e ingredientes. Um convite sob a forma de ultimato: "Não há razão para que as bebidas alcoólicas estejam isentas" de prestar essa informação ao consumidor, diz o documento.

Além da questão da rotulagem - que também já mereceu uma decisão do Parlamento Europeu, ainda por implementar - a UE quer que os Estados-membros avancem com medidas que permitam reduzir em 10%, até 2025, o uso nocivo do álcool. Para isso, o documento recomenda a adoção de medidas que "tenham impacto no preço" destas bebidas, que regulem a publicidade feita a estes produtos, e quer também mais regulação no patrocínio de bebidas alcoólicas a eventos, nomeadamente desportivos. A exposição de crianças e jovens a publicidade a bebidas com álcool é outra das preocupações expressa no documento, que pede também mais prevenção e um maior controle quanto ao consumo de álcool por jovens abaixo da idade mínima, ou quanto à venda ilegal de álcool.

Indústria quer informação online

As conclusões, adotadas ontem na versão final pelos ministros da Saúde da União Europeia - numa reunião que contou com a presença de Adalberto Campos Fernandes - foram conhecidas em março deste ano, pelo que desde então as associações europeias de bebidas alcoólicas têm vindo a trabalhar numa proposta para apresentar às instituições europeias, o que terá de suceder até março do próximo ano. Mas a solução defendida pelo setor não vai exatamente ao encontro do documento agora aprovado, sugerindo, ao invés, que a informação nutricional, sobre os ingredientes e as calorias, seja disponibilizada online e não nos rótulos das bebidas. Esta circunstância, diz Ana Isabel Alves, secretária-geral da Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV) obrigaria a criar "rótulos específicos para cada mercado" (dado que têm de ser escritos numa língua entendível pelo consumidor), o que seria "incomportável para as empresas, sobretudo as médias e pequenas".

E fala em "impacto catastrófico"

Mas foi sobretudo a ameaça de mexidas na fiscalidade das bebidas alcoólicas e a limitação à publicidade que levou a ACIBEV a escrever esta semana a vários ministros. Na missiva, a associação aponta o que diz ser o "desequilíbrio do atual debate europeu sobre as políticas de álcool" - um debate liderado "pelos países nórdicos, do Báltico e da Europa Oriental, cuja cultura é totalmente distinta da cultura mediterrânica dos países do sul".

Defendendo que Portugal é tido pela Organização Mundial de Saúde "como um dos países com padrões de consumo mais seguros da Europa" e que o setor do vinho português é "um grande impulsionador da economia", a ACIBEV sustenta, na carta enviada ao governo, que "as conclusões do Conselho poderão ter um impacto catastrófico na exportação de vinhos, no turismo e no Enoturismo".

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