Ucranianos e Palestinianos: Apoio ou neutralidade

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A reacção rápida da comunidade internacional e das Nações Unidas contra a invasão militar russa da Ucrânia e a sua dupla abordagem à crise da Ucrânia, por um lado, e as acções ilegais e desumanas de Israel contra cidadãos palestinianos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém, por outro, levantaram muitas questões aos palestinianos e ao mundo islâmico, incluindo a razão pela qual a comunidade internacional adota posições diferentes e recorre a uma dupla abordagem a estas duas crises. A opinião pública no Médio Oriente volta sempre à mesma questão: Será por causa da diferença de cor dos olhos ou do cabelo? E onde se encaixam nesta equação os princípios e valores humanistas?

Um recente vídeo do deputado irlandês, Richard Boyd, partilhado recentemente na internet, tem indignado ainda mais os palestinianos ao levantar muitas questões que ficam por responder, uma vez que, no vídeo, Richard Boyd deixa bem claro como em escassos cinco dias após o início da invasão russa à Ucrânia, a comunidade internacional conseguiu impor pesadas sanções contra o Presidente russo Vladimir Putin, enquanto que não são impostas sanções contra líderes israelitas, sendo estes os responsáveis pela brutalidade usada contra palestinianos civis inocentes, apesar de décadas de ocupação israelita da Palestina e violência coletiva e contínua de Telavive contra o povo palestiniano, o que constitui uma clara violação dos seus direitos humanos.

Nos últimos dias, as forças de ocupação israelitas cometeram, mais uma vez, o que pode ser considerado crimes de guerra. Ao invadir o espaço aéreo de Gaza, assassinou figuras proeminentes da resistência palestiniana, tendo martirizado dezenas de civis palestinianos, incluindo mulheres e crianças. É muito lamentável que este regime, na ausência de uma preocupação genuína e de uma acção adequada por parte da chamada comunidade internacional e dos fóruns que apelam pelos direitos humanos, tenha baseado a sua política na prática de crimes de guerra e derramamento de sangue sob o pretexto da guerra preventiva, da ilusória procura da paz e da afirmação de que está a agir em defesa dos cidadãos israelitas.

O que é importante a apontar é o silêncio ou o fracasso de organismos internacionais responsáveis por esta situação, nomeadamente o Conselho de Segurança das Nações Unidas, e a falta de empenho dos mesmos em tomar as acções necessárias. Como notou Hossein Hamayel, o porta-voz do Movimento Fatah: "Durante a operação militar israelita contra a Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança falhou a aprovação de um projecto de resolução, após três reuniões, para exigir o fim da agressão de Israel". Acrescentou ainda que nestas reuniões da Assembleia Geral das Nações Unidas, não houve um único país que classificasse o assassinato de crianças em Gaza por parte do exército israelita como sendo um acto terrorista, e não foi feita qualquer condenação contra Tel Aviv. Foi então que Hamayel colocou as seguintes questões: "Será que o sangue palestiniano é menos importante para a comunidade internacional e as Nações Unidas? Será que a humanidade está classificada de acordo com a raça e a cor da pele?"

O que se pode concluir é que estas questões não são para ser respondidas no contexto de uma abordagem de dois pesos e duas medidas! Da mesma forma no que toca a uma exigência de longa data do povo palestiniano: "Os líderes mundiais deveriam tomar uma decisão sobre a questão do direito dos palestinianos à autodeterminação e o fim inevitável da ocupação dos territórios palestinianos. A criação de um Estado independente para os palestinianos deve ser tratada de forma imparcial e baseada em normas internacionais de direitos humanos".

O chamado "mundo livre" deve compreender que o silêncio perante tais crimes de guerra que são levados a cabo contra Gaza e a falta de reacção adequada contra a política de guerra dos israelitas, apenas os encorajará a continuar e intensificar os seus crimes contra os palestinianos. Não obstante, o poder da resistência forçou os israelitas a concordarem com um cessar-fogo. Contudo, espera-se que todos os governos, meios de comunicação social, indivíduos e personalidades, instituições, e partes interessadas que procuram justiça e uma solução justa para o problema, quebrem o seu silêncio e condenem tais crimes hediondos, e dêem um passo prático no sentido do estabelecimento de uma paz duradoura e da prevenção de tragédias semelhantes no futuro. Só através deste comportamento comum em defesa dos povos oprimidos, independentemente da raça, cor ou religião, é que os valores humanos poderão ser assegurados, quer seja na Ucrânia ou na Palestina.

Estudante doutorando em Relações Internacionais na IPRI-NOVA

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