UCI: suspeito não é o mesmo que culpado de doping

Para a União Ciclista Internacional (UCI), um corredor suspeito não é automaticamente culpado de doping. Esta foi uma das reacções do organismo à publicação, pelo L'Équipe, de uma lista confidencial, elaborada para a Volta à França do ano passado, que agrupou os inscritos consoante o risco que representavam ao nível da dopagem e os indícios anormais nos passaportes biológicos.
Publicado a
Atualizado a

Em comunicado, a UCI considera que o título usado pelo jornal para a listagem ("Lista de Suspeições") pode "levar a uma interpretação incorrecta e prejudicial". "[A lista] Contém apenas um sumário da avaliação dos resultados das análises com o único propósito de estabelecer uma ordem de prioridade para os controlos e, desta forma, não pode em quaisquer circunstâncias pressupor a possível culpa das pessoas cujos nomes aparecem na lista. Qualquer que seja a avaliação da estratégia de controlo para um ciclista específico, a lista não justifica qualquer suspeição ou condenação", insiste a federação em comunicado.

A UCI explica que este tipo de documento é comum e serve de apoio às brigadas de controlo de doping. "Antes de cada grande Volta [França, Itália, Espanha, etc.] é feito um teste sanguíneo a todos os participantes. O Serviço Antidoping da UCI elabora depois 'um plano de controlo' com base nos resultados destes testes e dos passaportes biológicos dos atletas. Este plano de controlo define as prioridades, frequência e recursos dos testes a serem efectuados durante a prova".

A federação confirma que este procedimento é possível graças ao passaporte biológico, que inclui perfis sanguíneos individuais de cada ciclista e o qual pressupõe um "direccionamento sofisticado dos controlos". Mas, diz a UCI, o processo que deu origem à lista publicada na imprensa é apenas "superficial": "A informação publicada pelo jornal francês está longe da análise dos dados hematológicos feitos pelos peritos do passaporte biológico."

Continuar a liderar a luta antidopagem

A UCI aproveita ainda algumas passagens do trabalho do L'Équipe para se defender. Um dos pontos é de que, sendo um "'documento único, sem precedentes em qualquer desporto', esta lista 'revela uma realidade muito longe da noção de que 'todos recorrem ao doping' e põe um fim à ideia de dopagem organizada pelas equipas". Isto acontece devido "ao trabalho tremendo feito pela UCI nos anos recentes em que a proporção de ciclistas que atravessam a linha vermelha foi reduzida", salienta a federação. O terceiro ponto é que, apesar de defender que "suspeição não é o mesmo que culpabilidade", este tipo de lista poder ajudar os controlos fora de competição a serem mais eficazes.

No comunicado, a UCI diz que não nega a existência de um problema de dopagem, mas insiste que tem o problema sob controlo e vigilância, "em particular pelo passaporte biológico", e promete continuar a ser a federação "que lidera o caminho nesta área".

Lista confidencial para as brigadas e observadores

No reproduzido pelo L'Équipe, os corredores inscritos no Tour 2010 estavam agrupados em níveis do zero (sem qualquer anormalidade, ou seja, nada suspeito) até 10 (muito suspeito, com indícios "esmagadores" de dopagem). A lista serviu para o planeamento da operação antidopagem da prova fora de competição. O documento foi entregue às brigadas antidoping da UCI e aos observadores independentes enviados pela Agência Mundial Antidopagem (AMA).

À cabeça da lista estavam o ucraniano Yaroslav Popovych, o espanhol Carlos Barredo e o russo Denis Menchov, terceiro classificado na prova. A maioria dos ciclistas, incluindo os portugueses Sérgio Paulinho, Rui Costa e Manuel Cardoso, tinha classificação de baixo ou nulo risco de dopagem, segundo os indícios obtidos pelos passaportes biológicos e pelas análises pré-competição.

A UCI aproveitou ainda o comunicado para voltar a "deplorar e condenar veementemente a quebra de confidencialidade que permitiu que lista fosse enviada para a imprensa", prometendo coordenar com a AMA a abertura de "uma investigação profunda". "Uma fuga deste tipo é altamente irresponsável e inaceitável".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt