O Parlamento polaco rejeitou ontem um novo mandato do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, que apesar de ter ganhado as eleições de 15 de outubro não conseguiu uma maioria e perdeu um voto de confiança. Ao final de oito anos do Governo de direita nacionalista do Lei e Justiça (PiS), será a vez de o ex-primeiro-ministro e antigo presidente do Conselho Europeu Donald Tusk assumir os destinos do país, contando, para isso, com o apoio de uma coligação de três partidos. "Vamos consertar tudo juntos", prometeu..Após Morawiecki perder o voto de confiança por 266 votos contra 190, Tusk recebeu o mandato do Parlamento para formar Governo com 248 votos a favor e 201 contra, devendo apresentar hoje o seu programa e os nomes do Executivo, submetendo-se imediatamente ao voto de confiança no Parlamento, antes de prestar juramento amanhã para concluir os procedimentos exigidos pela Constituição. O objetivo é representar a Polónia já na reunião do Conselho Europeu do final da semana.."Obrigado, Polónia, este é um dia maravilhoso, não para mim, mas para todos aqueles que acreditaram profundamente ao longo destes anos que as coisas vão melhorar, que vamos afugentar a escuridão, que vamos afugentar o mal", disse Tusk após a votação. "Vamos consertar tudo juntos. A partir de amanhã poderemos corrigir os erros para que todos, sem exceção, se sintam em casa", afirmou..Mas o caminho não será fácil. "Não haverá milagres", porque o novo Governo enfrentará lutas diárias com o PiS, que continuará o seu combate, disse à AFP o analista político Jaroslaw Kuisz. "Será como andar na lama" e uma mudança rápida de política é pouco provável, já que o partido de Morawiecki irá deixar "um campo de minas" judicial, acrescentou..Composta pela Plataforma Cívica (PO, centro liberal), pela Terceira Via (Democrata-Cristão) e pela Esquerda, a coligação pós-eleitoral de partidos europeístas tem 248 deputados, contra 194 representantes eleitos pelo PiS e 18 da Confederação (extrema-direita), no hemiciclo de 460 lugares..Além disso, a nova aliança não terá uma maioria de 60% suficiente para ultrapassar os vetos presidenciais de Andrezj Duda, aliado do PiS, cujo mandato termina apenas em 2025. Duda insistiu em dar-lhes a oportunidade de formar Governo, mesmo sabendo que não tinham os votos suficientes..O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, prometeu uma oposição "dura" e lamentou "o fim da democracia" na Polónia. "A Polónia dos meus sonhos é aquela sem políticos que atuam a favor de Estados estrangeiros", disse, retomando o discurso usado na campanha eleitoral, na qual acusava a Plataforma Cívia (PO) e Tusk de representarem os interesses alemães e russos..Tusk prometeu desbloquear milhões de euros em ajuda europeia que ficaram congelados devido à tensão entre Bruxelas e o anterior Governo. O novo primeiro-ministro, que regressa ao cargo que já ocupou entre 2007 e 2014, também disse que quer restaurar a credibilidade da Polónia na União Europeia e dar-lhe uma voz importante no meio da guerra na vizinha Ucrânia. Com agências.susana.f.salvador@dn.pt