O alerta foi dado durante o congresso organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN): a sexta extinção está em curso. As espécies estão a desaparecer rapidamente. No encontro que decorreu em Marselha no início do mês foi atualizada a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas e os números não enganam: cerca de 28% das 138 mil espécies avaliadas estão em risco de extinção. A destruição dos ecossistemas e as alterações climáticas são as principais causas do declínio das espécies de animais, plantas e fungos. É urgente expandir e gerir zonas protegidas, envolver comunidades indígenas e locais nos esforços de conservação, vigiar as espécies invasoras, reduzir a pegada ecológica dos seres humanos e encorajar modelos de negócio que protejam a biodiversidade..Um dos principais alertas recai sobre os tubarões e as raias. Atualmente contam-se 400 espécies de tubarões e 600 de raias, 37% estão em perigo. Calcula-se que a abundância de tubarões oceânicos tenha diminuído cerca de 70% nos últimos 50 anos sobretudo por causa das barbatanas e do fígado. A sopa de barbatana de tubarão é considerada uma iguaria nos países asiáticos onde atinge preços astronómicos. Do fígado é extraído um óleo, o esqualeno, importante para o fabrico de vacinas, medicamentos, cremes hidratantes e protetores solares. Para extrair uma tonelada desta substância são necessários cerca de três mil fígados de tubarão, uma substância que já pode ser produzida em biorreatores..Nos países da União Europeia só é possível desembarcar nos portos algumas espécies destes peixes e inteiros uma vez que a prática do finning ou seja, a remoção das barbatanas, está proibida. Apesar da proibição não quer dizer que não aconteça e que não tenhamos de estar preocupados. Aliás Portugal e Espanha são os principais culpados, segundo a organização Shark Project, por a União Europeia ainda não ter proibido a pesca de duas espécies de tubarões: o anequim e o tubarão-azul. No nosso país a captura destas espécies é acidental, o objetivo dos pescadores é capturar espadarte, mas nas redes também é apanhado o tubarão-anequim. Para João Correia, biólogo marinho, professor e investigador no Instituto Politécnico de Leiria, o número de anequins capturados nas redes é preocupante. "Estas capturas são elevadas e com tendência para aumentar. Estamos a falar de milhares de animais por mês, na maior parte dos casos, peixes imaturos que ainda não atingiram a idade da reprodução." Mais um sinal preocupante. Os anequins podem viver 70 a 80 anos, medir até quatro metros de comprimento e pesar até 300 quilos. Atingem a maturidade sexual por volta dos 15 anos e têm apenas uma cria de cada vez. "Os animais apanhados pela nossa frota de pesca estão na maior parte das vezes abaixo dos 100 quilos de peso" acrescenta o biólogo, autor do livro Tubarões Voadores onde partilha algumas das aventuras que viveu a estudar estes animais..Não há limite para a pesca de tubarão-azul mas desde 2019 que, se o pescador quiser descarregar num porto nacional tubarão-anequim, tem de pedir uma licença, um documento que deixou de ser emitido desde o início deste ano a não ser que o animal tenha sido capturado em águas territoriais. Desde 22 de setembro que está proibida a captura de qualquer exemplar de tubarão-anequim no oceano Atlântico a norte de 5° N. Uma interdição da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) que se estende até ao final do ano..Para se perceber realmente o que se passa com a pesca de tubarão em Portugal é preciso analisar os dados, o que nem sempre é fácil, refere João Correia. "Em Portugal temos o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas que está a tentar preservar a espécie e temos a DGRM que está a dificultar, atrasando a partilha de informação, nomeadamente os valores das capturas de anequim, uma informação que é pública.".No mercado português o valor do tubarão está nas barbatanas e na carne. Uma vez em lota, as barbatanas podem ser retiradas e vendidas. Num supermercado ou restaurante é muito difícil distinguir um bife de espadarte de um bife de tubarão-anequim. A carne destes animais pode chegar a custar cinco a seis euros por quilo. Para o biólogo, fundador e gerente da empresa Flying Sharks que captura e transporta peixes para aquários de todo o mundo, é fundamental que se proíba a comercialização dos tubarões. Se não puder ser vendido, certamente as capturas terão tendência para diminuir e as devoluções ao oceano dos animais pescados acidentalmente vão aumentar. A Shark Project calcula que mais de 77% dos anequins devolvidos ao mar conseguem sobreviver..Os tubarões são elementos fundamentais dos ecossistemas marinhos. Como predadores de topo, estes peixes controlam as populações de outros peixes, assegurando o equilíbrio dos oceanos..Estudos científicos mostram que quando os tubarões desaparecem de um recife de coral, este estará ecologicamente morto no prazo de um ano. Aliás, já existem várias zonas dos oceanos classificadas como ecologicamente mortas por causa do desaparecimento destes animais. De que forma podemos ajudar a proteger estes peixes? A resposta para João Correia, membro da direção da Loving the Planet, é assertiva. "Não comer peixes predadores de topo como o espadarte, o tubarão ou o atum. Partilhar informações sobre este tema. Enviar mensagens de correio eletrónico a pressionar as entidades competentes.".dnot@dn.pt