Trump rejeita formar novo partido mas tem longo caminho até 2024

Ex-presidente quer "limpar a casa" e apontou o dedo aos republicanos que votaram a favor do seu impeachment. Primárias para as intercalares de 2022 vão mostrar o que vale o seu apoio.
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Pouco mais de um mês depois de deixar a Casa Branca e após sobreviver a um segundo processo de impeachment, o ex-presidente norte-americano Donald Trump retomou o mesmo discurso de sempre - as eleições foram roubadas e Joe Biden já fez que a "América primeiro" se tornasse na "América em último". Numa demonstração de força, defendeu a união do Partido Republicano - após uma limpeza interna - para mostrar que ainda tem uma palavra a dizer em 2024. Mas tem um longo caminho a percorrer.

Num discurso no mais importante evento conservador, que decorreu neste fim de semana em Orlando, na Florida, Trump rejeitou a ideia de que está a planear formar um novo partido, alegando que isso só serviria para dividir o eleitorado. "Temos o Partido Republicano. Vai ser forte e unido como nunca antes. Não vou começar um novo partido", disse, apelidando de fake news as notícias que apontavam nesse sentido. "Não seria brilhante? Vamos formar um novo partido e dividir o nosso voto, para nunca ganharmos. Não, não estamos interessados nisso", afirmou.

Depois de terem surgido os rumores de que Trump queria lançar um novo partido, ainda em janeiro, uma sondagem da CBS concluiu que apenas 33% dos republicanos estavam dispostos a aderir, sendo certo que 37% disseram "talvez". Contudo, fala-se também da possibilidade de haver uma cisão anti-Trump, com um grupo de republicanos que criticam o partido por não ser capaz de enfrentar o ex-presidente a estudar a hipótese de sair - ou no mínimo formar um grupo interno de oposição, já que o sistema bipartidário nos EUA é difícil de romper.

É contra essas divisões que Trump defende uma união entre os republicanos, mas depois de "limpar a casa". Um dos seus alvos durante o discurso de cerca de 90 minutos na noite de domingo foram os chamados "RINOs", acrónimo de "republicans in name only", isto é, "republicanos só no nome". O ex-presidente avisa que os "RINOs que nos rodeiam vão destruir o Partido Republicano e os trabalhadores americanos e o próprio país".

Entre os RINOs estão os republicanos que votaram a contra ele no seu segundo histórico processo de impeachment. Trump não hesitou em apontar nomes: dos senadores Mitt Romney e Pat Toomey aos congressistas Liz Cheney e Adam Kinzinger. "Livrem-se deles", disse, a pensar nas eleições intercalares de 2022. Estes e outros republicanos podem esperar concorrência interna nas primárias, com Trump a sugerir que apoiará quem concorrer contra eles - será o primeiro teste ao que vale o seu apoio.

O ex-presidente prometeu ajudar os republicanos a recuperar já no próximo ano as maiorias que perderam - a Câmara dos Representantes ainda em 2018 e o Senado em 2020 - e não afastou a hipótese de ele próprio se candidatar nas presidenciais de 2024. "Com a vossa ajuda, vamos recuperar a Câmara, vamos ganhar o Senado e depois um presidente republicano fará um regresso triunfante à Casa Branca. Pergunto-me quem será? Quem, quem, quem é que será, pergunto-me", afirmou a sorrir.

Noutra altura, quando repetia a mentira de que foi ele que ganhou as eleições de novembro, Trump não hesitou em afirmar: "Quem sabe, posso até decidir derrotá-los [aos democratas] uma terceira vez." Nas bancadas de produtos de merchandising, no exterior do hotel onde decorreu a conferência, em Orlando, na Florida, já estavam à venda produtos "Trump 2024".

A conferência de ação política conservadora (CPAC, na sigla em inglês), a maior reunião de políticos e ativistas conservadores, mostrou que Trump pode ter deixado a Casa Branca, mas ainda tem mão no Partido Republicano. Apesar das críticas que se têm ouvido de alguns líderes, o evento do fim de semana teve um teor pró-Trump, com vários dos seus principais aliados - do senador Ted Cruz ao filho Donald Trump Jr. - a ter tempo de antena. Uma estátua de ouro a representar o ex-presidente (curiosamente feita no México por um artista norte-americano residente no país) também fez sucesso.

Um inquérito feito aos mais de mil participantes na conferência revelou que 97% aprovam o que Trump fez durante os quatro anos na Casa Branca. Contudo, só 68% disseram que ele devia concorrer outra vez à presidência. Se as primárias fossem hoje, apenas 55% votariam nele, com o governador da Florida a chegar aos 21%. Sem o nome de Trump na lista, Ron DeSantis conseguiria 43% de apoio, à frente da governadora do Dacota do Sul, Kristi Noem, com 8%, com o senador Ted Cruz, do Texas, e o ex-secretário de Estado, Mike Pompeo, a conseguirem ambos 7%.

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