Trump quer comprar a Gronelândia. Mas quanto é que poderia custar aos EUA?
É praticamente 24 vezes maior do que Portugal, é conhecida por ser uma das zonas mais belas, naturais e geladas do planeta Terra, terá sido visitada por portugueses em 1500 e desde o século XVIII que pertence à Dinarmarca-Noruega (mais tarde só à Dinamarca), como região autónoma. A Gronelândia (em gronelandês: Kalaallit Nunaat, "nossa terra"; em dinamarquês: Grønland, "terra verde"), é uma ilha gigante de muito gelo e vegetação, com 2,1 milhões de km2 (quase quatro vezes maior do que França) e uma densidade populacional de apenas 0,026 habitantes por km2 - tem 56 mil habitantes e é das zonas menos habitadas do planeta.
Numa altura em que o degelo tem afetado a zona de forma preocupante do ponto de vista ambiental, há cada vez mais área sem gelo numa zona de riquezas naturais impressionantes, inclusive em carvão e urânio. Nesse contexto, o Wall Street Journal avançava esta quinta-feira que o presidente dos EUA, Donald Trump, tem falado com insistência no assunto em reuniões e jantares e pediu já à equipa legal da Casa Branca para estudar o tema.
A reação dinamarquesa foi clara. Houve deputados a dizer "não, obrigado". Esse foi o caso de Aaja Chemnitz Larsen, eleita pelo círculo da Gronelândia, que explicou ainda que a venda não seria simples. "É importante dizer que a Gronelândia não é um bem que pode simplesmente ser vendido", explicou, acrescentando que o país "não pode simplesmente avançar e vender". Já Lars Lokke Rasmussen, ex-primeiro-ministro do país, admitiu no Twitter que a notícia mais parecia uma "piada do Dia das Mentiras".
O exercício não é fácil, mas há muitos exemplos ao longo da história que nos ajudam a chegar a um valor. A 30 de março de 1867, o então secretário de Estado norte-americano William H. Seward concordou em comprar o Alasca da Rússia por 6,49 milhões de euros - o equivalente, na atualidade, a um valor a rondar os 380 milhões de euros (de acordo com calculadora do governo britânico).
Será esse valor excessivo para se pagar por um pedaço de terra praticamente inexplorado? Na verdade a Rússia vendeu o território, hoje avaliado por especialistas por valores a rondar os 4 biliões de dólares, como uma verdadeira pechincha. Na altura, no entanto, a decisão foi amplamente criticada e Seward foi mesmo ridicularizado por muitos nos EUA. O preço tão avultado com a aquisição do território gelado e praticamente por explorar, fez com que o Alasca recebesse o nome de "o congelador de Seward".
A partir desse mesmo ano de 1867, os Estados Unidos também fizeram várias tentativas para tentar expandir a sua influência, inclusive nas Caraíbas, com a aquisição das Ilhas Virgens dinamarquesas. No entanto, devido a uma série de dificuldades políticas, a venda das ilhas só começou a tornar-se real com a assinatura do Tratado das Índias Ocidentais dinamarquesas, em agosto de 1916.
Após um referendo na Dinamarca, as ilhas tornaram-se parte dos EUA a 31 de março de 1917. Depois da transferência, o governo norte-americano mudou o nome das ilhas para Ilhas Virgens dos Estados Unidos. O pagamento feito à Dinamarca foi de cerca de 22,53 milhões de euros, feito em moedas de ouro (um valor a rondar os 1,2 mil milhões de euros na atualidade).
Ao olharmos para estes dois exemplos, o caso do Alasca é o território mais próximo da Gronelândia, mas tem 1,7 milhões de km2, bem menos dos que os 2,1 milhões do território que fica entre a Islândia e o Canadá. E se, como já vimos, o Alasca valerá hoje - pelo petróleo lá descoberto -, cerca 4 biliões de dólares (um relatório divulgado pelo Washington Post em 2012 indicava que a sua venda na altura valeria, pelo menos, 2,5 biliões de dólares aos EUA), é fácil concluir que a Gronelândia, mesmo sem petróleo mas com carvão e urânio, poderia ter um valor próximo.
No mínimo dos mínimos a terra do gelo teria o valor de uma Google, cerca 665 milhões de euros. Tudo isto, claro, se a Dinamarca estivesse disponível para o vender o que, como já se viu, parece nesta altura impossível - teria, provavelmente, mais uma vez, de ter o aval do seu povo em referendo.
O negócio, tal como explica a Bloomberg e como já vimos, não só não seria inédito como tem alguns argumentos que beneficiariam os EUA, inclusive do ponto de vista de estratégia mundial.