Trump justifica atitude de jovem que matou dois manifestantes
O presidente norte-americano, Donald Trump, desloca-se nesta terça-feira a Kenosha (Wisconsin), onde um cidadão negro, Jacob Blake, foi baleado e gravemente ferido pela polícia, um caso que reacendeu os protestos antirracismo e contra a violência policial nos Estados Unidos.
O governador do Wisconsin, o democrata Tony Evers, pediu a Trump para reconsiderar a sua visita, receando um reacender dos protestos e de possíveis tumultos, pedido que foi rejeitado.
Mas o presidente norte-americano fez outra leitura da sua visita à cidade onde tudo aconteceu. Ir a Kenosha "pode aumentar o amor e o respeito pelo nosso país", afirmou Donald Trump, na segunda-feira.
A Casa Branca confirmou na segunda-feira o anúncio feito no sábado de que Trump ia deslocar-se à cidade de Kenosha, no estado do Wisconsin (centro-oeste dos Estados Unidos), para se encontrar com os responsáveis policiais locais e "analisar os danos provocados pelos tumultos" ocorridos após a denúncia do caso de Jacob Blake.
Na véspera da ida a Kenosha, Trump justificou os atos de Kyle Rittenhouse, um adolescente de 17 anos que matou a tiro dois manifestantes nos protestos violentos que decorreram nas ruas da cidade. Refere que se tratou de uma "situação interessante" que está a ser alvo de investigação. "Viram o mesmo vídeo que eu e ele estava a tentar escapar deles, acho. Ele caiu e atacaram-no com muita violência. Provavelmente, teria sido morto", justificou Trump.
O congressista democrata Joe Kennedy III, de Massachusetts, reagiu a estas declarações de Trump através da rede social Twitter. "Este é o presidente dos Estados Unidos a justificar um duplo assassínio cometido por um homem branco que transportava ilegalmente" uma arma.
Kyle Rittenhouse foi preso na casa da mãe e agora enfrenta uma acusação de homicídio de primeiro grau.
Vídeos indicam que ele passou vários horas a patrulhar as ruas antes de apontar uma arma aos manifestantes, tendo dito a jornalistas que era "o seu trabalho" vigiar edifícios e até oferecer assistência médica aos manifestantes.
A 23 de agosto, um agente disparou sete vezes nas costas de Blake, de 29 anos, quando este abria a porta de um veículo, onde estavam três dos seus filhos menores, situação que foi gravada por câmaras de telemóvel de testemunhas.
A vítima permanece internada numa unidade hospitalar nos subúrbios de Milwaukee (Wisconsin) e está paralisada da cintura para baixo.
Este caso, à semelhança de outros casos recentes envolvendo cidadãos afro-americanos e agentes policiais brancos, nomeadamente os casos de George Floyd e de Breonna Taylor, desencadeou uma nova vaga de emoção e de protestos antirracismo e contra a brutalidade policial em várias cidades norte-americanas.
Em Kenosha, após Jacob Blake ter sido baleado, seguiram-se três noites de tumultos, com registo de confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, veículos incendiados e edifícios vandalizados.
Numa das noites, que contou com a presença de contramanifestantes e milícias armadas nas ruas, um adolescente de 17 anos disparou, em circunstâncias ainda pouco claras, contra os manifestantes. Dois manifestantes foram mortos e um terceiro ficou ferido.
Durante este verão, os Estados Unidos foram palco de contínuas manifestações por todo o país, que por vezes degeneram em confrontos e que desencadearam a declaração do estado de emergência em várias cidades e a mobilização de efetivos da Guarda Nacional (militares de reserva).
Estas manifestações antirracismo e contra a violência policial foram desencadeadas pelo caso de George Floyd, um afro-americano que morreu asfixiado pelo joelho de um polícia branco em maio passado, na cidade norte-americana de Minneapolis.