Trump fala em novo Watergate no último ataque contra Obama

No Twitter, o presidente acusou o antecessor de ter colocado os seus telefones sob escuta antes das eleições. Mas não apresenta provas.
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Para Donald Trump, Barack Obama "vai ficar na história como o pior presidente dos EUA". Durante uma campanha em que a Casa Branca se envolveu como raramente o faz no apoio a Hillary Clinton, o candidato republicano acusou o chefe do Estado de ser o "fundador" do Estado Islâmico e prometeu desfazer quase todas as suas políticas: da reforma da saúde ao acordo sobre o nuclear com o Irão. Mas ontem, ainda de madrugada, foi já como presidente que Trump lançou a maior acusação contra o antecessor, escrevendo no Twitter que Obama o mandou colocar sob escuta nos últimos dias da campanha.

"Terrível! Acabo de descobrir que Obama me pôs sob escuta na Trump Tower mesmo antes da vitória. Nada foi encontrado. Isto é mccarthismo!", escreveu Trump no Twitter, comparando os alegados métodos de Obama aos do senador Joseph McCarthy que nos anos 1950 protagonizou a perseguição aos comunistas que ficou conhecida como "caça às bruxas".

O presidente - que já acusara Obama de orquestrar os protestos contra ele - não se ficou por aqui. Sem apresentar provas que sustentem declarações desta gravidade contra um ex-presidente, Trump tuitou ainda: "É legal um presidente em exercício mandar escutar uma corrida à presidência antes das eleições? Recusado pelo tribunal. BATEU NO FUNDO!" e acrescentou: "Aposto que um bom advogado podia provar que o presidente Obama mandou escutar os meus telefones em outubro, mesmo antes das eleições!". E rematou: "O presidente Obama bateu no fundo ao mandar escutar os meus telefones em pleno processo eleitoral. Isto é Nixon/Watergate. Tipo mau (ou doente)!". Aqui numa referência às escutas mandadas colocar na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, durante as eleições de 1972 e que acabaram por levar o presidente Richard Nixon a deixar o cargo dois anos depois para não ser destituído.

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O porta-voz de Obama, Kevin Lewis, limitou-se a garantir que "nem o presidente Obama nem qualquer outro responsável da Casa Branca alguma vez mandou escutar um cidadão americano". Mas Ben Rhodes, antigo conselheiro do presidente democrata, negou as acusações de forma bem mais veemente. "Não, um presidente não pode ordenar uma escuta. Essas restrições foram criadas para proteger os cidadãos de pessoas como o senhor", escreveu Rhodes no Twitter. Já o democrata Eric Swalwell, membro da Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, desvalorizou as acusações, que disse não passarem de o "presidente a fazer a sua rotina tuiteira madrugadora".

Segundo a lei americana, para obter um mandato que permitisse a colocação de uma escuta, o Departamento de Justiça teria de ter provas sólidas suficientes para convencer um juiz de que o alvo da escuta - neste caso, Donald Trump - teria cometido um crime federal ou que era um agente ao serviço de uma potência estrangeira.

Segundo o The New York Times, "a decisão do presidente de dar o aval do seu gabinete a tal acusação - sem apresentar qualquer prova - é notável, mesmo vindo de um líder que já se mostrou disposto a fazer afirmações que são falsas ou baseadas em rumores".

Ora desta vez, o mesmo jornal, e também o Washington Post, explica que os tweets de Trump podem fazer eco de uma teoria apresentada sexta-feira pelo site Breitbart News (cofundado pelo seu agora estratega principal, Steve Bannon) e pelo apresentador de rádio conservador Mark Levin. O artigo do Breitbart dá conta de "uma série de passos dados pela administração Obama nos últimos meses no poder para prejudicar a campanha de Donald Trump e, mais tarde, a sua equipa de governo".

Depois de ter apoiado as sanções contra a Rússia após a anexação da Crimeia, em 2014, Obama, pouco antes de deixar a Casa Branca, mandou expulsar dos EUA três dezenas de diplomatas russos devido ao alegado envolvimento de Moscovo no ataque informático aos computadores do Comité Nacional do Partido Democrata durante a campanha. O presidente democrata ordenou ainda uma investigação à alegada interferência da Rússia nas eleições de 8 de novembro, que dariam a vitória a Trump face a Hillary Clinton.

Desde que chegou à Casa Branca, o republicano já teve de lidar com uma demissão - a de Michael Flynn, o conselheiro para a segurança nacional - devido a contactos com responsáveis russos durante a campanha. E o seu procurador-geral, Jeff Sessions, pediu escusa da investigação à alegada interferência de Moscovo depois de surgirem notícias de que se reuniu duas vezes com o embaixador russo em Washington antes das eleições.

Fontes da Casa Branca confirmaram ao The Washington Post que os tweets de Trump apanharam os seus conselheiros de surpresa. Uma porta-voz do presidente limitou-se a dizer aos jornalistas que Trump está no seu resort de Mar-a-Lago, onde já passou quatro fins de semana desde que tomou posse a 20 de janeiro, e "tem tido encontros, tem feito telefonemas e tem batido umas bolas" no campo de golfe.

Contrastando com a camaradagem que revelaram outros ex-presidentes - como George Bush pai e Bill Clinton, por exemplo (ver texto ao lado) - Obama e Trump nunca esconderam a animosidade. Com Obama a sublinhar várias vezes na campanha que o milionário "não serve" para presidente. E já com Trump na Casa Branca, disse "discordar totalmente" da política de imigração" do sucessor.

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