Um milhão de pessoas são esperadas hoje na Normandia para celebrar os 75 anos do desembarque das tropas aliadas em vários pontos da região francesa. Entre os participantes há 500 veteranos da II Guerra Mundial, Emmanuel Macron e Donald Trump, os chefes de Estado de França e dos Estados Unidos..Antes de ambos presidirem à cerimónia franco-americana, Macron vai estar em Ver-sur-Mer com a primeira-ministra Theresa May para a colocação da primeira pedra de um memorial britânico orçado em 23 milhões de euros, no que será o último encontro oficial de May antes da sua demissão..A cerimónia principal, que junta Macron e Trump, realiza-se no cemitério americano de Colleville-sur-Mer. Entre 12 mil pessoas estarão 160 veteranos da II Guerra Mundial, 45 dos quais participaram no Dia D..O dia 6 de junho de 1944 foi uma data-chave para a libertação da Europa do nazismo. Mais de 130 mil soldados desembarcaram nas praias da Normandia oriundos de cerca de 7000 navios..Unidos pela história, mas desunidos em quase tudo o resto, os dois líderes vão de seguida trocar pontos de vista numa reunião bilateral que terá lugar no edifício da autarquia de Caen. O Eliseu fez saber que os temas a discutir são as questões de segurança, a luta antiterrorista, o Médio Oriente, as políticas comerciais e a preparação da próxima cimeira do G7, que decorre em Biarritz, em agosto. Por sua vez, a Casa Branca destaca a importância histórica das comemorações do Dia D..Parecem já longe os tempos em que deram sinais de cumplicidade. Há pouco mais de um ano, quando Macron se deslocou a Washington em visita de Estado, o anfitrião augurou que o francês iria ser um "grande presidente". Mas meses depois, regressado de Paris, onde ouviu um discurso contra os perigos do nacionalismo, criticou a "baixíssima popularidade" de Macron. E agora ambos não escondem que estão em campos opostos em quase todos os temas, embora o Eliseu afirme que o nível de confiança entre Paris e Washington está "ao mais alto nível"..Uma declaração que embate na realidade: ainda na segunda-feira, Emmanuel Macron criticou a guerra comercial em curso entre EUA e China. O presidente francês opôs-se à abertura de negociações comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos porque estes últimos tinham saído do Acordo de Paris sobre o clima..Irlanda comparada com a fronteira EUA-México.Donald Trump aproveitou a visita de Estado ao Reino Unido para se deslocar à vizinha República da Irlanda e pernoitar numa estância turística da sua propriedade, Doonbeg. Depois de ter saído do Air Force One no aeroporto de Shannon, encontrou-se na área VIP com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar..Trump desvalorizou o efeito do Brexit na ilha e comparou a situação com os EUA e o México. "Penso que tudo correrá muito bem", disse. "E também com o muro, com a fronteira. Nós temos uma situação na fronteira nos Estados Unidos e você tem uma aqui, mas ouvi dizer que vai funcionar muito bem", disse Trump ao lado de Varadkar, em conferência de imprensa conjunta..Varadkar sublinhou que o governo irlandês queria evitar a todo o custo "uma fronteira ou um muro" entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, ao que Trump respondeu: "Penso que sim, penso que sim. A forma como funciona agora é boa, vocês querem tentar manter as coisas assim. Sei que é um grande motivo de discórdia em relação ao Brexit. Tenho a certeza de que vai funcionar muito bem. Sei que estão muito concentrados nisso.".Comemorações do Dia D em Portsmouth.O último dia de visita de Estado de Trump ao Reino Unido ficou marcado pelas comemorações oficiais do Dia D, em Portsmouth, tendo o presidente lido a oração que Franklin D. Roosevelt pronunciou aos norte-americanos naquele 6 de junho de 1944..Trump, chamado ao palco, leu a oração do então presidente dos EUA: "Deus todo-poderoso, os nossos filhos, o orgulho da nossa nação, neste dia, partiram num desafio enorme; uma luta para preservar a nossa república, a nossa religião, a nossa civilização e libertar uma humanidade sofredora."."Sabemos que, pela tua graça, e pela justiça da nossa causa, os nossos filhos vão triunfar. Alguns nunca regressarão. Abrace esses pais, e recebe-os, os servos heroicos, no teu reino. E, Senhor, dá-nos fé, fé em ti e nos nossos filhos, fé uns nos outros, e fé na nossa cruzada unida", disse Trump, citando Roosevelt..Após a cerimónia, Trump encontrou-se com veteranos e também aproveitou para encontros bilaterais, nomeadamente com a chanceler alemã, Angela Merkel, uma das líderes presentes..Testemunhos e cartas.O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, leu na cerimónia um testemunho do primeiro soldado canadiano a receber a Victoria Cross na II Guerra Mundial, um soldado que liderou os seus homens por uma ponte sob fogo inimigo dizendo "não há nada aqui para nos preocupar"..O presidente francês, Emmanuel Macron, antes de ler uma carta de um combatente da Resistência francesa, agradeceu a todos os países em nome da sua nação. "Vou morrer pelo meu país. Quero que a França seja livre e que os franceses sejam felizes. Não quero que a França seja arrogante e a nação líder do mundo, mas que seja trabalhadora, diligente e honesta", dizia a carta do jovem que foi executado em setembro de 1943, com apenas 16 anos..Também a primeira-ministra britânica, Theresa May, leu uma carta de um soldado britânico, escrita à mulher dois dias antes do Dia D. "Tenho a certeza de que qualquer um com imaginação não deve gostar do que está para vir. Mas os meus receios são mais de ter medo do que do que pode acontecer comigo", dizia a carta. O soldado acabaria por morrer no dia 7 de junho..Isabel II também discursou, lembrando que, quando assistiu às comemorações do 60.º aniversário do Dia D, muitos pensaram que seriam as últimas a que assistiria. "Mas a geração da II Guerra Mundial, a minha geração, é resiliente", disse. Falando dos milhares de jovens soldados, marinheiros e aviadores que desembarcaram na Normandia, a rainha referiu que "muitos nunca regressariam, e o heroísmo, a coragem e o sacrifício daqueles que perderam a sua vida nunca serão esquecidos. É com humildade e prazer, em nome de todo o país, na verdade, de todo o mundo livre, que eu digo a todos, obrigada"..Proclamação do Dia D.Além das comemorações, Downing Street pediu aos representantes dos 16 países que assistiram às cerimónias que assinassem a "proclamação do Dia D". "Estamos juntos hoje para honrar a memória daqueles que pagaram o último sacrifício no Dia D, e muitos dos milhões de homens e mulheres que perderam a vida durante a II Guerra Mundial, o maior conflito na história humana", lê-se no documento. "Afirmamos que é nossa responsabilidade compartilhada garantir que o horror inimaginável desses anos nunca se repita", acrescenta..O documento pede o compromisso nos "valores comuns" defendendo que estes apoiam "a estabilidade e a prosperidade" das nações e dos povos. "Vamos trabalhar juntos como aliados e amigos para defender estas liberdades, sempre que estas sejam ameaçadas", refere. "Comprometemo-nos a trabalhar de forma construtiva como amigos e aliados para encontrar um terreno comum onde temos diferenças de opinião e para trabalhar juntos para resolver as tensões internacionais pacificamente", acrescenta.