Agora que Trump foi eleito presidente dos EUA, e ninguém tem ideia qual a sua estratégia para a política externa norte americana - talvez nem o próprio saiba -, resta tentar avaliar, mediante as premissas que temos, os riscos que temos pela frente..Se Obama afirmou, no início do seu segundo mandato, que o Pacífico era a sua prioridade, mas continuou empenhado em intervir no Médio Oriente, agora com Trump tudo pode acontecer, e o "umbigo do mundo" é mesmo aqui ao lado..Sabe-se que entre as promessas eleitorais de Trump está a aniquilação do autodenominado Estado Islâmico, com medidas que não quis revelar, por serem ultrassecretas. Ora um dos legados de Obama foi participar na recente ofensiva internacional para expulsar o ISIS da cidade iraquiana de Mossul que, apesar de estar a registar bons resultados, tem estado a agudizar as tensões entre as várias forças no terreno. De um lado temos os países da Aliança Atlântica ajudados pelos curdos peshmergas, e do outro o Iraque, a Rússia, o Hezbollah, que contam com o envolvimento dos curdos xiitas alevitas do PKK. Todos parecem querer reclamar a vitória sobre o ISIS mas todos parecem também interessados em controlar o território já conquistado. Erdogan tem mandado avançar colunas militares em território iraquiano, para além de ter uma base militar em Bashiqa, na província iraquiana de Nínive, onde treina os curdos peshmergas. Toda esta situação tem irritado os iraquianos e o seu primeiro-ministro Haider al-Abadi, temendo que esta batalha seja apenas uma justificação de Erdogan para voltar a controlar Mossul..Está em jogo uma zona estratégica que, no início do século passado, logo após a Primeira Guerra Mundial, foi disputada entre o que restava do Império Otomano e o Império Britânico, mais tarde Iraque. Nem o Tratado de Sèvres, assinado em 1920 para delimitar o território da Turquia, nem o de Lausana, três anos mais tarde, já entre Ancara e Londres, parecem ter colocado fim às pretensões turcas de voltar a ter Mossul. A posse desta cidade representa, para Erdogan, muito mais do que a posse dos ricos poços de petróleo iraquianos e da água do rio Tigre. É também a oportunidade de voltar a ter as antigas fronteiras, e conseguir afastar os curdos xiitas alevitas do PKK, aliados de Assad, da Rússia e do Irão..A situação atual no Médio Oriente é muito mais do que uma guerra para derrubar o ISIS ou Assad, é uma proxy war entre a Rússia e os EUA, e seus respetivos aliados. Tem como objetivo controlar recursos energéticos e rotas estratégicas para chegar ao Mediterrâneo e à Europa..O contentamento de Putin pela vitória de Trump já fez muitos analistas afirmar que ele era o verdadeiro vencedor destas eleições americanas. Trump, por seu lado, já referiu que não encarava a Rússia como inimiga, e fez questão de repetir que pretende retirar as tropas americanas dos conflitos externos para se focar nos assuntos internos americanos, além de deixar bem claro que pretende querer distância do mundo muçulmano..O que o recém-eleito presidente dos EUA quer fazer da política externa é uma grande incógnita, mas as guerras que atualmente decorrem no Médio Oriente oferecem um risco muito elevado, sobretudo pela proximidade com a Europa e pela falta de uma política de segurança e defesa da União Europeia que, atualmente, conta exclusivamente com a ajuda da NATO, de Trump.