Trump dá os parabéns a Kim Jong-un, mas não é por isso que a Coreia do Norte vai voltar à mesa das negociações
Desde junho de 2018, aconteceram três reuniões entre o presidente dos Estados Unidos e o seu homólogo norte-coreano para chegar a um acordo, mas as negociações em torno da desnuclearização atingiram um beco sem saída em fevereiro do ano passado em Hanói, no Vietname, quando os Estados Unidos se recusaram a levantar as sanções ao país até a Coreia do Norte ter abandonado de vez o seu programa nuclear.
Antes deste "colapso", Trump descrevia a sua relação com Kim como excelente e apesar de, nos últimos meses, o entusiasmo ter arrefecido, o "afeto" não terá desaparecido, já que o presidente dos Estados Unidos não só não se esqueceu como não deixou passar em branco o aniversário do líder norte-coreano, que em tempos era visto como um dos seus inimigos número 1.
Do lado da Coreia do Norte, os parabéns foram recebidos com simpatia, mas as autoridades daquele país fizeram questão de sublinhar que a sua política externa não era gerida com base em sentimentos ou simpatias pessoas.
Kim Kye Gwan, conselheiro do ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, deu conta de que a missiva congratulatória de Trump tinha chegado intacta, diretamente dos Estados Unidos, mas fez questão de esclarecer, numa declaração à agência oficial de notícias norte-coreana KCNA, que, apesar de ser sabido por todo o mundo que as relações pessoais entre Kim Jong-un e o presidente Trump "não são más", "seria uma "tolice" esperar que Pyongyang retomasse o diálogo apenas devido "à calorosa relação pessoal" entre os dois líderes.
Sobre o impasse nas negociações, o diplomata reforçou que "reabrir as conversações só seria possível no caso de Washington dar o seu acordo absoluto às questões levantadas pela Coreia do Norte nas conversas anteriores" [o levantamento de todas as sanções ao país], acordo em relação ao qual se mostrou cético. "Sabemos bem que os Estados Unidos não estão preparados nem capazes de fazer isso. Sabemos o caminho a seguir e seguiremos o nosso caminho", disse de forma enigmática.
Numa reunião do seu partido em dezembro, Kim Jong-un declarou o fim das moratórias da Coreia do Norte sobre testes de mísseis balísticos nucleares e intercontinentais. A autoimposta proibição de tais testes tinha sido um elemento central da diplomacia nuclear entre Pyongyang e Washington nos últimos dois anos, que pouco avançou apesar disso.
A Coreia do Norte nunca confirmou oficialmente a idade ou data de nascimento do seu líder - mas em 8 de janeiro de 2014, Dennis Rodman, estrela norte-americana de basquetebol e grande amigo de Jong-un, cantou-lhe o "Parabéns a Você" antes de um jogo em Pyongyang. E Trump, que antes de 2018 trocava com o seu homólogo norte-coreano insultos e ameaças de guerra, mas, depois de o conhecer, parece ter-se tornado seu admirador, não se esqueceu. Mas nem isso parece ter aquecido o coração do de Kim Jong-un, a avaliar pelas palavras de Gwan, que acusou Washington de tentar manipular os sentimentos calorosos que possam existir entre os dois para obter ganhos políticos.
"Fomos enganados pelos Estados Unidos, empatados nas conversações por mais de ano e meio e esse foi um tempo perdido para nós", salientou na declaração à KCNA, acrescentando que os "bons sentimentos pessoais" de Kim Jong-un em relação a Trump não influenciariam quaisquer conversas futuras.
"Não voltarão a ter lugar negociações como a do Vietname, em que propusemos a troca de uma central nuclear nossa pelo levantamento de algumas sanções da ONU", avisou, acrescentando que "não vale a pena estarmos presentes em tais conversações, em que há apenas pressão unilateral. E, neste tipo de negociações, não queremos fazer trocas como se fossemos meros comerciantes."