Trump carrega na tecla de Reiniciar e até lança apelo ao voto dos negros
Indiferente à sondagem da NBC News que no início de agosto lhe dava apenas 1% das intenções de voto no eleitorado negro - ou talvez graças a ela -, ontem Donald Trump deixou o desafio à comunidade afro-americana para lhe dar uma oportunidade. "Vivem na pobreza, as vossas escolas são más, não têm trabalho, 58% dos vossos jovens estão desempregados. O que é que têm a perder?", perguntou Trump em Dimondale, no Michigan.
Depois de ter mudado a equipa de campanha (pela segunda vez em dois meses), de ter pedido desculpa aos que ofendeu com as suas palavras e de ter visitado as vítimas das cheias na Louisiana, esta parece ser a última mudança na estratégia de Trump. A cair nas sondagens em relação à rival democrata Hillary Clinton - 37% das intenções de voto contra 41% no último estudo Ipsos/Reuters - o candidato republicano às presidenciais de 8 de novembro nos EUA precisava de carregar na tecla de Reiniciar para recuperar a vantagem que chegou a ter em julho, após a convenção que o confirmou como nomeado.
Mas conquistar o voto negro em menos de três meses promete não ser fácil. É verdade que Trump não tem atacado esta minoria como atacou outras - os hispânicos têm estado na sua mira, com o milionário a prometer construir um muro na fronteira com o México se chegar à Casa Branca e a chamar "violadores e traficantes" aos imigrantes mexicanos - mas os afro-americanos são um eleitorado tradicionalmente democrata.
E se não espanta que Barack Obama - o primeiro presidente negro dos EUA - tenha obtido 95% do voto dos afro-americanos em 2008 e 93% quatro anos mais tarde, a tendência já antes era esmagadora. John Kerry obteve 88% do voto negro em 2004, Al Gore conseguiu 90% em 2000 e Bill Clinton teve 84% em 1992 e 83% 1996. Se recuarmos mais, Lyndon Johnson em 1964 obteve 95% do voto dos afro-americanos.
A ex-primeira dama Hillary tem sabido capitalizar a simpatia dos negros pelo marido, o ex-presidente Bill Clinton, e, durante as primárias democratas conseguiu 90% do voto dos negros.
Apesar destas dificuldades, Trump parece disposto a seguir a sugestão do Wall Street Journal, que há dias publicava um texto intitulado: "Porque Trump não devia desistir do voto negro". Seguindo o guião do texto no teleponto (uma velha exigência da sua equipa para evitar os excessos do candidato a que este parece agora ter cedido), Trump acusou a rival democrata de ter "feito muito mal" à comunidade negra. "Hillary Clinton preferiria dar emprego a um refugiado estrangeiro do que aos jovens negros desempregados em cidades como Detroit, onde se tornaram refugiados no seu próprio país", afirmou o magnata do imobiliário. E prometeu que se chegar à Casa Branca, "ao fim de quatro anos, garanto-vos que conseguirei 95% do voto afro-americano. Prometo. Porque posso cumprir".
O peso dos hispânicos
Com o seu discurso antissistema, a sua retórica incendiária e a sua fama de outsider - afinal esta é a primeira vez que se apresenta a umas eleições -, Trump conquistou até agora sobretudo os homens brancos e de classe média. Mas isso não chega para vencer em novembro. Representando 13% da população americana, os negros são um eleitorado essencial, mas os hispânicos, 17,4% da população americana e com tendência para aumentar, serão os grandes decisores no futuro. E também aqui a tendência é para votarem nos democratas. Há quatro anos Obama obteve 71% do voto latino, há oito tivera 67%. Com 40%, George W. Bush em 2004 teve o melhor resultado de sempre de um candidato republicano junto da comunidade hispânica. Mas, além da cunhada mexicana, o ex-governador do Texas até fala um pouco de espanhol.
Com uma mulher na corrida à Casa Branca - pela primeira vez na História dos EUA a representar um grande partido -, seria de esperar que o voto feminino fosse esmagadoramente para Hillary Clinton. Mas aqui a bagagem da ex-primeira dama e os ódios que foi acumulando nas suas quatro décadas de vida pública jogam contra ela. Mesmo assim, a candidata democrata recolhe 47% das intenções de voto femininas (Obama obteve 55% do voto das mulheres em 2012), contra 34% para Trump, segundo um estudo da Morning Consult para a revista Fortune. A vitória pode depender de quem conseguir conquistar as 17% de indecisas.
Enquanto Trump reformula a sua estratégia de campanha, Hillary Clinton enfrenta os seus próprios problemas. A candidata viu ontem um juiz federal decidir que terá de responder por escrito às perguntas do grupo conservador Judicial Watch sobre a utilização de um servidor pessoal de email quando era secretária de Estado - entre 2009 e 2013. O Judicial Watch tem agora até 14 de outubro para apresentar perguntas por escrito a Hillary Clinton, que por sua vez vai dispor de 30 dias para responder.
No início de julho, o FBI concluiu que a ex-chefe da diplomacia americana revelou "extrema negligência" ao usar o email privada para enviar mensagens de trabalho, mas recomendou que não fosse investigada judicialmente.
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