Trump avança com muro: "México irá pagá-lo a 100%"

Casa Branca anuncia que vão ser aumentadas e aceleradas as expulsões de imigrantes ilegais. Presidente dos EUA reúne-se na próxima semana com homólogo do México.
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Donald Trump assinou ontem o decreto executivo a autorizar o início da construção de um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México para impedir a imigração ilegal. Ao mesmo tempo, assinou outro decreto que ordena o reforço de medidas de segurança na fronteira entre os dois países, aumentando o número de agentes na região, a expansão de centros de detenção, alguns a serem geridos por entidades privadas, e a suspensão da transferência de verbas federais para as "cidades santuárias".

Estas cidades são assim designadas pelo facto de as autoridades locais não deterem nem repatriarem os ilegais aí residentes.

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Os decretos foram assinados durante uma visita à sede do Departamento de Segurança Interna. Em declarações à ABC News, o presidente Trump disse ontem que o México pagará "a 100%" a construção do muro, como "sempre tenho dito". E que negociações entre os dois países sobre esta e outras questões vão começar a breve trecho. O custo do muro ao longo de cerca de 3200 quilómetros de fronteira comum foi estimado pelo próprio Trump entre o equivalente a 7,4 e 9,3 mil milhões de euros. O presidente admitiu que a construção será suportada pelos EUA mas que, mais tarde, o reembolso irá operar-se de "forma talvez complicada" no quadro "das transações" entre os dois países. Trump, que falava na Casa Branca, disse que a construção iniciar-se-á dentro "de meses".

Quase em simultâneo com a notícia da assinatura dos decretos presidenciais, o porta-voz da Casa Branca Sean Spicer explicava que a tendência até agora seguida de "prender e libertar" os ilegais será substituída pela deportação generalizada dos imigrantes sem documentação.

O anúncio da construção do muro com o México não deixará de abrir uma guerra com o governo deste país. Desde que Trump afirmou a intenção de erguer essa "barreira de segurança", como lhe chamou, que as autoridades mexicanas têm afirmado, categoricamente, que não tencionam custear a edificação. No passado, Trump chegou a sugerir que as remessas dos imigrantes mexicanos fossem retidas nos EUA para subsidiar os custos do muro. Ainda no plano da imigração, antecipa-se para hoje novo decreto presidencial, impondo fortes restringindo à entrada nos EUA de nacionais de sete países do Médio Oriente e África. Entre estes países estão o Iraque, Síria e o Iémen.

A formalização da construção coincidiu com a chegada a Washington de uma delegação mexicana de alto nível chefiada pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Luis Videgaray, e da Economia, Ildefonso Guajardo, para contactos com o chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, os seus principais conselheiros, Jared Kushner, Steve Bannon e Michael Flynn, este último para a Segurança Nacional.

Os encontros destinam-se a preparar a cimeira de terça-feira entre Trump e o seu homólogo do México, Enrique Peña Nieto. Além da questão do muro e da imigração ilegal, o Tratado de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês) será outro tema contencioso. Durante a campanha, Trump anunciou a intenção de o renegociar; se isso não fosse possível, retiraria o seu país do acordo, que abrange, além do México, também o Canadá.

No plano da política interna, o dia ficou marcado por duas mensagens no Twitter do presidente em que este escreveu ter pedido "uma investigação minuciosa" a "fraudes eleitorais", para detetar "aqueles registados para votar em dois estados" e aos mortos cujos nomes permanecem nos cadernos eleitorais. O objetivo seria demonstrar que, ao contrário da realidade, o candidato republicano teria ganho igualmente no voto popular e não a democrata Hillary Clinton. O presidente republicano afirmou, após as eleições de novembro, que a candidata democrata recebera quase cinco milhões de votos "ilegítimos", sem apresentar provas nesse sentido.

As mensagens sobre fraude eleitoral acabaram por ter um efeito de ricochete, com alguns media americanos a revelarem, poucas horas depois, que entre os registados em dois estados estava, nada mais nada menos, do que o chefe de estratégia da Casa Branca, Steve Bannon. Em resposta a esta notícia e a críticas vindas dos democratas, Sean Spicer disse que a investigação não irá centrar-se "nas eleições de 2016", mas no processo eleitoral em geral.

Ainda no plano interno, e através do Twitter, como habitual, Trump comentou a onda de violência em Chicago, escrevendo que serão enviadas "forças federais", se a cidade não puser fim "à carnificina" atual. Desde o início do ano e até segunda-feira foram mortas 228 pessoas, "um aumento de 5,5% face às 216 no mesmo período" de 2016, referiu terça-feira The Chicago Tribune. E foram estes os números citados por Trump, cuja mensagem não esconde o recorrente conflito com os democratas. O mayor de Chicago é Rahm Emanuel, primeiro chefe de gabinete na presidência de Obama e considerado próximo de Hillary Clinton.

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