Triunfos lusitanos
Sejamos justos: Laços de Sangue foi uma das menos más telenovelas produzidas em Portugal nos últimos anos. Tinha uma trama tonta e interpretações inconsistentes, como todas, mas uma vez por outra forjava um diálogo um pouco menos insuportável e de vez em quando lembrava-se de um golpe de marketing que a punha, não sem uma pontinha de graça, a dialogar com a atualidade. Portanto, se vamos mesmo colocar uma telenovela no horário nobre da RAI1, menos mal ser ela.
De resto, devemos ser capazes de pôr as coisas em perspetiva. O patriotismo bacoco é um dos principais sinais da boçalidade do nosso debate público, mas às vezes acontece um português triunfar lá fora sem que isso tenha necessariamente uma dimensão nociva.
Por exemplo: se um dia ganhássemos a Eurovisão com música pimba, do nível daquela que enviámos este ano, seria aviltante porque há em Portugal música melhor, e, aliás, muita música muito melhor. Quanto à televisão, não sei bem. Os melhores programas que temos feito nos últimos anos ou são formatos comprados (como Conta-me como Foi), ou são muito dificilmente exportáveis (como Melhor do Que Falecer). Não estou a ver, tirando esses dois segmentos, que tenhamos produtos melhores do que Laços de Sangue, ou pelo menos muitos produtos muito melhores do que Laços de Sangue.
E, já agora, note-se: trata-se do horário nobre de uma estação generalista de um dos países que nos ensinaram a fazer TV generalista. Não é suposto mandarmos grande coisa, até porque de certeza eles não quererão grande coisa também. No horário nobre da TV generalista, a fórmula é evidente: mais qualidade é igual a menor audiência. E não só em Portugal.