Já está à venda o mais recente trabalho dos Músicos do Tejo, Il Trionfo d"Amore, o regresso a Francisco António de Almeida do ensemble de música barroca fundado em 2005 por Marcos Magalhães e Marta Araújo. Uma aposta certeira: já integra a lista trimestral de nomeados para Melhor Ópera Pré-1800 dos Prémios da Crítica de Discos Alemã. Os resultados são conhecidos na sexta-feira..Apesar do sucesso internacional de crítica e de vendas do CD da ópera La Spinalba, editado no final de 2012, este trabalho, gravado um ano depois, esperou dois anos até ser editado..Por trás deste esforço estão Marcos Magalhães e Marta Araújo, almae matres dos Músicos do Tejo - ele sendo o maestro principal. "Ficámos entusiasmados com a qualidade da Spinalba [levada à cena em 2008 e 2009] e, após outros projetos, quisemos regressar à música portuguesa e pensámos logo no Francisco António de Almeida". E caíram numa obra que "até pelo nome, nos despertou logo a curiosidade". Receberam em micro-filme a partitura (o manuscrito autógrafo está em Vila Viçosa), que depois editaram, "e revelou-se uma bela surpresa. Fomos tocando e percebendo que a música era de uma valia equivalente ou por vezes até superior à da Spinalba"..Il Trionfo d"Amore estreou no Palácio Real, em 1729. Terá sido um "evento de luxo para uma ocasião festiva [onomástico do monarca], sendo que a obra requer efetivos musicais semelhantes aos de uma ópera". Arrisca chamar-lhe "divertimento musical profano" e vê nela um carácter "mais pictural que teatral", de tal modo se aproxima dos "quadros com ninfas e pastores em festas nupciais". Uma espécie de "pintura arcádica feita som"..Pois é de festa nupcial que aqui falamos: uma no início (interrompida) e duas no final, com a peripécia no "miolo" e o volte-face indispensável ao triunfo do vero amore. E a música? "ele também cantava e daí, talvez, o conhecimento e sensibilidade muito profundos dele na escrita para a voz humana"; a partitura "ganha logo de início um grande ímpeto" e "há muitas árias que procuram o tom sublime". E para as cantar, um sexteto de cantores com a novidade Carlos Mena: "foi através da Ana Quintans. Eles já têm trabalhado juntos e ela falou-lhe no projeto. Ele gostou muito da ideia, adorou o ambiente de trabalho que aqui teve - e adorou a música!".Doravante, dizem, e "desde que consigamos reunir os fundos necessários [esta edição custou 30 mil euros] e tratando-se de obras interessantes e que não tenham sido gravadas modernamente, justifica-se partir para a gravação". Da parte da Naxos, "há abertura e uma disposição favorável para prosseguir" a colaboração. Do compositor setecentista é que já resta pouco, pelo menos na área profana: "só o 3.º ato da ópera La pazienza di Socrate e a serenata L"Ippolito [estreia moderna recente, no Porto, não gravada]"..O objetivo é engordar a discografia: "em dez anos, fizemos quatro discos. Não é mau, mas se houvesse cá uma engrenagem, um sistema regular de produção discográfica, seriam mais. Porque motivação e entusiasmo há de sobra.".Dizem que "ninguém se deu ainda bem conta de que dantes eram quase só estrangeiros que difundiam a nossa música em disco e agora tornou-se normal serem intérpretes portugueses a fazê-lo - e ninguém nos está a levar ao colo." É tudo parte de um esforço para "alargar o centro da música [grosso modo, a Europa central] e incluir nele não só o nosso grupo, como o próprio compositor". Neste caso, afirmam, "poder contribuir para dar a conhecer o Almeida a nível mundial é por si só muito bom"..Outra obra do autor que já goza de expressão internacional é a oratória La Giuditta (de 1726): "vamos fazê-la no CCB, em setembro de 2016,e de novo com o Carlos Mena e a Ana Quintans!", anunciam. Mas essa não a gravarão, pois "a gravação do René Jacobs não tem assim tanto tempo e é tão boa!...".A curto prazo, "há um concerto em colaboração com o realizador Pedro Costa [Gulbenkian, 1 de abril]" e outro nos Dias da Música (em abril, no CCB).