Tripulantes dos A330neo da TAP admitem greve devido a enjoos
Há quatro meses que os tripulantes de cabine da TAP se queixam de mal-estar, vómitos e tonturas provocados pelos novos aviões A330-900 neo. Ao sindicato já chegaram mais de 14 denúncias de indisposições que estão a colocar em alvoroço os tripulantes de bordo da companhia aérea e que têm motivado várias reuniões de alto nível. Apesar de parecer não haver problema para a saúde, o sindicato diz que assim é que não pode continuar e ameaça com paralisações.
"Caso a TAP não mostre garantias de que o problema pode ser resolvido em pouco tempo seremos obrigados a ponderar a convocação de uma greve", afirma o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) numa nota a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.
Acrescenta que "os sintomas relatados incluem tonturas, vómitos, enjoos, desorientação, ardor nos olhos, cansaço extremo e até sensação de desmaio". E destaca que já solicitou, além de "explicações à empresa" e de ter feito a denúncia a "todos os organismos públicos que têm o dever de supervisionar o setor da aviação", uma análise biológica aos tripulantes para "saber se os sintomas são devidos à falta de oxigénio na cabine", como se chegou a suspeitar.
Contactada pelo DN/Dinheiro Vivo, a fabricante Airbus garante que a "investigação extensiva e análise desenvolvidas por uma entidade independente e um reconhecido laboratório demonstraram sistematicamente a ausência de contaminação tóxica do ar". E sublinha que "não há risco para a saúde dos tripulantes ou passageiros".
Mas a história dos enjoos nos A330-900 neo está longe de estar explicada. Em primeiro lugar, porque apenas os A330 neo da TAP parecem causar estas indisposições, depois, porque não foi detetada nenhuma irregularidade técnica. No final de junho, a TAP, na sequência da divulgação de casos de má disposição em tripulantes e passageiros, pela TSF, confirmou a existência de "casos pontuais de tripulantes com ligeiras indisposições" e associou o problema a "alguns odores do equipamento de ar condicionado", situação que considerou "normal em aeronaves novas". A companhia assumiu ainda que o cheiro "desaparece logo após as primeiras utilizações".
Logo se levantaram suspeitas sobre a concentração de CO2 nestes aviões, que poderia ser superior, devido a uma deficiente renovação do ar. Ao DN/Dinheiro Vivo, a fabricante europeia de aeronaves lembra que "como qualquer avião Airbus, o A330 neo está certificado por todas as autoridades para operar e isto significa que as cabines estão desenhadas para prevenir a contaminação de ar".
O DN/Dinheiro Vivo contactou a EASA, autoridade europeia responsável pela certificação destas aeronaves, mas não obteve resposta até ao fecho da edição. O regulador português, ANAC, não reúne o poder para determinar a continuidade da operação destes aviões mas admitiu estar a acompanhar a situação, tendo recebido a TAP na última quarta-feira para um ponto de situação e onde foi confirmado "não existirem problemas com este tipo de aparelhos". A ANAC continua a acompanhar o caso.
Já a TAP remete para as declarações de junho, não respondendo se as seis aeronaves deste modelo poderão ser retiradas do ar para um eventual recall à fábrica. Ao que foi possível apurar, a companhia e a fabricante continuam a fazer testes, tendo sido colocados vários medidores para perceber o que está a acontecer.
A Airbus já entregou à TAP seis aviões A330-900 neo, de um total de 19 que vão voar com as cores da companhia portuguesa até final deste ano. A TAP foi a primeira companhia a receber este novo modelo da Airbus que é mais económico, como toda a classe neo. Este avião faz rotas de longo curso e tem 298 assentos.