«De uma certa maneira, sinto-me um bocado órfão», confessa. «Sem o rigor e o olhar que me ensinou, e que fui descobrindo a pouco e pouco, eu nunca teria sido capaz de tirar esta fotografia. Ou aquela». As memórias e os exemplos sucedem-se, à medida que vai explicando o peso de tamanha influência na sua vida e a forma como o quer agradecer através da exposição que hoje inaugura na galeria Chiado 8 - Arte Contemporânea, em Lisboa. Gérard Castello-Lopes chamou-lhe, simplesmente, Homenagem a Henri Cartier-Bresson..São cerca de 40 fotografias, com aquela oportunidade do «momento decisivo» a que o preto e branco confere aura de intemporalidade, datadas entre 1956 e 2004. A última, isolada numa pequena sala em sinal de respeito quase religioso, é a única que não está à venda. «Foi a 6 de Agosto, o dia em que fiz 79 anos», conta ao DN Gérard Castello-Lopes. O dia em que, junto à sepultura coberta de flores e ao vaso com uma oliveira, prestou tributo ao seu mestre em Montjustin..Ainda que só tenham trocado breves palavras por uma vez e que o objecto do olhar de Castello- -Lopes se tenha desviado, entretanto, para o que chama de «ilusão das aparências», as marcas ficaram. E estão patentes na geometria da composição, na atenção aos pormenores, no enquadramento de figuras e cenários..David Castello-Lopes, seu filho e também fotógrafo, escreveu num dos prefácios do catálogo sobre duas dessas imagens paradigmáticas de tamanha admiração. São duas cenas de rua, duas provas de que o equilíbrio entre razão e emoção pode passar para o papel. Como? «A reflexão vem antes e depois, mas quando se está a fotografar é uma mistura de emoção e intuição. É uma correspondência da ordem do arquetipal, entre aquilo que temos cá dentro e o que vemos cá fora»..Para o fotógrafo que não dá nomes às suas obras para não condicionar o olhar do espectador e que gosta de homenagear outros fotógrafos - embora afirme que em Portugal só nas imagens de Joshua Benoliel reconhece o golpe da genialidade -, o difícil é o retrato. Por ser algo que exige um grande conhecimento do objecto e envolve o «mistério» da anuência e a «dádiva do fotografado»..Depois de um projecto sobre as esculturas surrealistas de Júlio Pomar (para uma exposição na Tunísia que poderá ir para Veneza), e da retrospectiva Oui/Non que há um ano apresentou no CCB, Castello-Lopes afirma que a selecção para esta sua Homenagem não foi difícil. Estará em Lisboa até 1 de Março e, a partir de dia 5 desse mês, no Porto, na Galeria Fernando Santos.