"Noiva nazi" condenada a prisão perpétua. É a única sobrevivente de um grupo terrorista

Beate Zschäpe esteve envolvida na morte de dez pessoas. Cúmplices cometeram suicídio
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O Tribunal de Munique condenou esta quarta-feira a prisão perpétua Beate Zschäpe, a única sobrevivente de um grupo neonazi, pela sua participação numa dezena de assassinatos racistas, um caso que chocou a Alemanha.

Conhecida como a "noiva nazi", Zschäpe, de 43 anos, foi considerada culpada dos dez ataques perpetrados pelo grupo designado Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU) entre 2000 e 2007.

A mulher estava a ser julgada desde maio de 2013 pela sua alegada participação em 10 homicídios - entre eles o de uma mulher polícia -, dois atentados com explosivos contra comunidades estrangeiras e 15 assaltos realizados entre 2000 e 2007 pelo NSU.

Beate Zschäpe é a única sobrevivente do trio que formava com Uwe Mundlos, 38 anos, e Uwe Bohnhardt, 34 anos, com os quais teria mantido uma relação amorosa durante vários anos.

Em 2011, os dois homens foram encontrados mortos quando estavam prestes a ser detidos. A polícia acredita que poderá ter sido um pacto de suicídio, conta a BBC.

O grupo neonazi assassinou oito pessoas turcas ou de origem turca, um grego e um elemento da polícia.

O caso chocou a Alemanha uma vez que a célula já estava identificada pelas autoridades, mas continuou ativa e impune durante vários anos, o que indica falhas nos serviços de informações internas.

Em setembro de 2016, Beate Zschape rompeu o silêncio após mais de três anos de julgamento para assegurar já não ter "simpatia pela ideologia" nacional-socialista.

"Já não julgo as pessoas em função das suas opiniões ou das suas origens, mas em função das suas ações", disse.

A ligação entre os homicídios foi descoberta por acaso em 2011, depois de uma tentativa de roubo fracassada que levou à descoberta do grupo. Foi nesta altura que os corpos de Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt foram encontrados numa caravana queimada que tinha sido usada no assalto.

Quatro cúmplices também foram condenados

Após a morte dos dois homens, com quem vivia, Zschäpe tentou destruir as provas da existência do grupo e causou uma explosão no apartamento que os três partilhavam, mas não foi bem-sucedida e acabaria por se entregar às autoridades.

Durante o julgamento, outras quatro pessoas foram condenadas pelo seu envolvimento com o grupo nazi. Ralf Wohlleben, um antigo funcionário do Partido Democrático Nacional (NPD), de extrema-direita, foi condenado a 10 anos por ter sido o responsável pela aquisição da arma usada em nove homicídios. Foi acusado de encorajar os crimes.

Carsten S. vai passar três anos num centro de detenção juvenil por ter sido o responsável pela entrega da pistola e do silenciador à cédula nazi.

André E. foi condenado a dois anos e seis meses por ter apoiado um grupo terrorista. Visitava os dois homens e a mulher, levando os filhos com ele, e garantia assim um ar de aparente normalidade ao grupo, o que permitiu dissipar suspeitas entre a vizinhança.

Holger G. recebeu uma pena de três anos por ter entregue a sua certidão de nascimento e outra identidade a Uwe Mundlos, para o proteger das autoridades.

Ligação ao neonazismo começou na adolescência

Beate Zschäpe conheceu Mundlos quando ainda era adolescente e foi com ele que entrou no mundo dos grupos neonazis. Conheceu Böhndardt mais tarde e acabaria por se apaixonar. Os três juntaram-se e começaram a viver juntos. Foi por causa da relação com os dois homens que ganhou a alcunha de "noiva nazi".

Segundo a imprensa alemã, as autoridades encontraram várias fotografias antigas onde os três aparecem sempre juntos. Os primeiros ataques do trio tinham como alvo monumentos de homenagem a vítimas do Holocausto.

Durante a década seguinte, Zschäpe assumiu diversas identidades. O Ministério Público alemão acredita que a mulher era a "alma da célula terrorista": escolhia as vítimas e tratava do que fosse preciso para a execução dos crimes.

Enver Simsek, um vendedor de flores turco, foi a primeira vítima do grupo. Foi assassinado em setembro de 2000 com seis tiros na cara. Theodoros Boulgarides foi o único cidadão não turco assasinado. Era serralheiro e a sua aparência poderá ter levado o trio a confundir a nacionalidade da vítima. Em 2007, o grupo matou uma mulher polícia, provavelmente numa tentativa de roubo de armas.

Na maior parte dos homicídios foi usada a mesma arma, mas a polícia tratou todos os crimes de forma isolada, acreditando que estavam relacionados com a máfia turca. O caso levou à demissão do chefe das secretas alemãs Heinz Fromm.

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