Três jovens feridos a tiro na Quinta da Fonte

Um homem de etnia cigana disparou sobre três jovens africanos. Em represália, os africanos incendiaram a viatura de um cigano.
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Quinta da fonte, Loures, arredores de Lisboa. O lugar já significa para os portugueses confronto entre cidadãos de etnia cigana e africana, obrigados a coabitar no mesmo bairro. Os tiros repetiram-se na madrugada de ontem, por iniciativa de um cigano, seguindo-se uma carrinha incendiada de um homem da mesma etnia como represália dos africanos. Resultado: três feridos jovens, negros, entre os 15 e os 18 anos, um dos quais com uma bala numa perna.

"Lara, filha, conta ao senhor o que fizeram ao papá?" O pai que pergunta, de raça branca, com pouco mais de 20 anos, boné de pala atrás, já não tem espaço para piercings nas orelhas. A Lara, uma menina negrinha, com três anos, sorridente, vira-se, curva-se e coloca as pequeninas mãos atrás das costas num gesto perfeito de quem vai ser algemada. E exclama: "Polícia mata." O pai, de cerveja de litro na mão, traduz: "Morte aos polícias." Mais uma pergunta em crioulo e a criança responde: "Polícia mata." Um amigo do pai pede que mostre os dentinhos, e Lara sorriu com toda a inocência.

O grupo de etnia africana, em que se inseria o pai de Lara, estava parado na avenida principal do bairro disposto a contar tudo o que se havia passado a troco de umas cervejas. Como não obteve resposta, segui-se o silêncio. "Não estava cá, não vi." "Não sou de cá." "Ontem à noite apanhei uma cadela e não me apercebi de nada."

Por parte da etnia cigana havia predisposição para falar. A versão mais consensual foi a de que, sábado à noite, um grupo de africanos tentou entrar numa festa de noivado em casa de ciganos. Como não conseguiu, terá provocado desacatos. Um dos ciganos saiu, meteu-se no carro e, no fim da avenida principal, disparou uns tiros, ferindo três jovens africanos, um dos quais teve de ir ao hospital. Em seguida, um grupo africano tentou invadir a casa de uns ciganos que nada tinham a ver com aquele que disparou. Como não conseguiu , incendiou a carrinha que estava na rua carregada de sapatos e roupa para venda, ontem, na feira do Relógio.

Davide Pinto, com lágrimas nos olhos, disse ao DN que tinha pago por aquele material 1750 euros. Tudo ardido. Mais um dia na Quinta da Fonte.

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