Três homens linchados pela população após dois assaltos no centro de Moçambique
A polícia moçambicana informou hoje que três homens foram mortos pela população após duas tentativas de assalto nos últimos dias a residências da cidade de Chimoio, na província de Manica, no centro de Moçambique.
Belmiro Mutadiua, porta-voz da Polícia de Manica, informou que um homem foi espancado e queimado após tentar entrar numa casa no bairro 5 e outros dois foram atacados com paus quando tentavam arrombar uma residência no bairro 7 de Abril, acabando todos por morrerem no hospital, depois de socorridos pelos agentes policiais.
"Confirmamos dois casos de linchamento, com três mortos de "homens-catanas" [homens que atuam com catanas afiadas para ameaçarem as vitimas], um ocorrido na madrugada de sexta para sábado e outro no domingo à noite", precisou Belmiro Mutadiua, adiantando que a policia foi chamada tardiamente e não chegou a tempo de evitar os linchamentos.
Uma onda de linchamentos teve lugar em 2007 em Manica, durante uma revolta popular contra a "impunidade policial", que se saldou em sete mortos num dia.
As províncias de Manica e Sofala (centro) e Maputo (sul) lideram os casos de linchamentos no país, segundo uma pesquisa da Liga dos Direitos Humanos (LDH).
"Estamos preocupados com o ressurgimento de casos de linchamentos em Manica, um fenómeno a que já não assistíamos há dois anos na província", declarou Belmiro Mutadiua, avançando que foram reativados cinco conselhos de policiamento comunitário nos últimos dias, para travar o crescimento deste fenómeno.
Estatísticas policiais em Manica indicam que, em 2011, cinco pessoas morreram linchadas e outras dezenas escaparam com ferimentos ou queimaduras no corpo, provocadas por pneus ou capim seco em chamas, enquanto em 2010 ocorreram 12 casos e em 2012 quatro pessoas foram mortas através de justiça popular.
"Temos que evitar o pior", afirmou Belmiro Mutadiua, acrescentando que foram criadas no Chimoio plataformas de diálogo para apelar à população para não enveredar por fazer "justiça pelas próprias mãos".
Em 2012, o Governo de Manica iniciou uma campanha de esclarecimento dos líderes comunitários, religiosos e outras figuras influentes nas comunidades para o funcionamento da máquina da Justiça e para os procedimentos processuais, a fim de evitar linchamentos.