Treinador do Fátima cedo descobriu a sua vocação
Rui Carlos Pinho da Vitória nasceu em Alverca. Foi jogador profissional, começou a carreira no Alverca, aos 9 anos, e lá permaneceu até aos seniores. Passou por vários clubes, mas em nenhum teve grande destaque. Com 19 anos começou a traçar um futuro: "Tirei o curso de Educação Física muito cedo e a partir daí comecei a ligar a parte física com a do futebol. Logo comecei a pensar que o meu futuro passava por ali", relembra.
Terminou a carreira de jogador precocemente, com 32 anos, mas essa também era uma certeza. "Eu sempre dizia que gostava de ser treinador cedo, a minha ideia era terminar ainda antes." A transição de jogador para treinador é que não aconteceu de uma forma muito normal. No espaço de uma semana passou de atleta de um clube para técnico de outro. "Eu estava a jogar no Alcochete e, num domingo à noite, recebi um telefonema do Vilafranquense para ser treinador daquele clube. Segunda-feira fiz o meu último treino como atleta no Alcochete e terça já estava no comando técnico de um clube no qual fui jogador durante muitos anos."
Em Vila Franca, Rui Vitória ficou dois anos até sair para os juniores do Benfica, de onde saltou então para o CDFátima. Sem ter um treinador-referência, procura passar aos seus atletas um pouco do que aprendeu com os seus antigos professores do relvado. "Não me identifico com ninguém em específico, tive a sorte de apanhar diferentes técnicos - uns com formação académica, outros sem - e apanhei de cada um deles um pouco."
Rui deixa bem claro que a forma como os atletas estão disponíveis para o trabalho e um plantel escolhido a dedo por ele e pela direcção são o segredo para o sucesso. O novo "tomba-gigantes" já conseguiu este ano o feito de afastar da nova Taça da Liga a Académica e o FC Porto, e está a um passo de repetir a "graça" com o Sporting de Paulo Bento, a quem venceu na primeira mão em pleno Estádio de Alvalade.
O treinador relembra esse dia: "Lembro-me que não fizemos qualquer alusão a jogar em casa ou fora, a marcar golos ou não. Fomos jogar, queríamos era competir. Eu transmiti aos jogadores uma ideia do género: 'Vamos jogar o jogo, sabemos que eles são melhores, vamos dividir o jogo e vamos à procura da nossa vida.'"
A preocupação da equipa, no começo da época, não era a Taça da Liga, mas sustentar a posição dentro do futebol profissional. " Viemos da II Divisão, somos um clube com pouco poder financeiro, a nossa principal ideia era mostrar um bocado ao País que o Fátima é um clube sério, muito organizado e que merece estar nas competições profissionais. A Taça da Liga surge como uma coisa muito boa que nos tem acontecido."
Quanto ao futuro próximo, Rui Vitória tem os pés bem assentes no chão: "Não perco nunca a lucidez nessas coisas. A equipa do Sporting é uma equipa de Liga dos Campeões e o facto de nós termos ganho não invalida nada que o Sporting arrume connosco. Agora acho que é importante às equipas pequenas terem um espaço para sonhar e ninguém nos pode limitar essa ambição."
E se o sonho terminar com o Sporting, o treinador já se sente satisfeito. "Já mostrámos qualidade, já ganhámos a quem tínhamos de ganhar e até mais do que pensávamos. Tudo o que vier agora é lucro."|