Trazer o verde para casa em tempos de pandemia

Encher as casas de vida enquanto não se pode desfrutar em pleno da natureza tornou-se assunto sério nos confinamento. Eis algumas dicas para iniciantes, segundo os especialistas
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"Eu fiz bolos e cozinhei e limpei e fiz exercício, mas em alguns dias, parecia que a única coisa que me mantinha sã e firme eram aqueles delicados rebentos verdes", confessa a escritora Jennifer Weiner, no artigo Jardim urbano no apocalipse, publicado pelo The New York Times, descrevendo o seu primeiro confinamento e esse pequeno jardim que fez crescer na janela de casa e, com tal êxito, que se estendeu depois a outras divisões da casa. "Quando as minhas filhas olharem para trás para o ano da praga e os seus horrores, espero que também se lembrem das flores". As palavras da autora norte-americana podiam ser as das muitas pessoas que contactaram Márcio Orsi da Silva, fundador da Superbotanica. "Diziam-nos que sentiam a casa triste e queriam uma planta", conta o arquiteto ao DN: Foi assim no primeiro confinamento e está a ser assim por estes dias.

O primeiro passo quando se quer encher a casa de verde é, em simultâneo, o mais simples. "Observar as particularidades de cada espaço para selecionarmos as espécies ideais", explica o arquiteto Márcio Orsi da Silva, da Superbotanica, que, juntamente com a arquiteta paisagista Roberta Gontijo, desenvolve este projeto de "entusiastas do verde em casa". Visto e revisto o espaço, depois é preciso lembrar que "não existe planta que não precise de luz para sobreviver".

"Fatores como a orientação solar, humidade, ventilação e dimensões das divisões são os primordiais para isso", explica ao DN Márcio Orsi da Silva ao DN, matando de vez a ideia de que há pessoas sem jeito para plantas e outras que, como por milagre, as fazem crescer. "A grande maioria das plantas de interior vai dar-se bem em espaços bem iluminados, mas sem incidência de sol direto". Há várias opções: Monsteras, Alocasias, Ficus, Palmeiras e Filodendros.

Pedro Pulido Valente, do Horto do Campo Grande, diz que "a compra deve ser em função da localização pretendida e não apenas baseada na sua beleza". Precisando: "Normalmente as plantas com flor ou com folhas manchadas de branco (variegata) têm necessidade de mais luz e as que têm folhagem mais escura conseguem adaptar-se a zonas com pouca luminosidade". E acrescenta: "Utilizei a palavra adaptar-se porque independentemente da planta certa para o sítio certo o sucesso nunca é 100% garantido. Há sempre uma adaptação da planta ao local onde é colocada."

Se o espaço não tem muita luz, "pode optar pela Zamioculcas, a maioria das Calatheas, o Scindapsus, alguns filodendros e Spathiphyllum - o famoso lírio-da-paz", elenca Márcio Orsi da Silva. "Ao contrário, se houver incidência de sol direto em excesso pode optar, para além dos cactos e suculentas, pela Yucca, Sansevieria - a espada-de-são-jorge - e Strelitzias."E se não existir luz natural? "Na falta dessa, tem de ser providenciada iluminação artificial especialmente projetada para suprir a necessidade mínima para que a planta faça a fotossíntese."

Arrumada a questão do interior, pensemos em varandas e terraços. "Gostamos de indicar plantas autóctones ou reconhecidamente adaptadas, de forma que os cuidados não tenham de ser excessivos para manter o jardim bonito. E há muitas espécies lindas facilmente encontradas nos viveiros em Portugal, não há porquê não conseguir escolher algo que fique bem". Os exemplos da Superbotanica são variedades conhecidas como o alecrim ou lavanda, as suculentas e sedums, as strelitzias, a espirradeiras e os fórmiuns.

Jardim para iniciantes (ou não)

Pedro Pulido Valente alerta que o jeito para cuidar das plantas "tem muito a ver com os cuidados que temos com elas: às vezes poucos e outras vezes em excesso. Por excesso pode considerar-se água a mais na sua manutenção, o que faz apodrecer as raízes e não há recuperação possível, ou colocar uma planta muito perto de um vidro ou de um ar-condicionado", nota. Ao contrário, explica, "as plantas com pouca atenção são na maior parte das vezes facilmente recuperáveis apenas adicionando água ou uma pequena dose de adubo. E deixa um conselho para as pessoas "distraídas" e que quase nunca se lembram delas: "Provavelmente selecionaria as suculentas ou cactos. São plantas que necessitam de muito pouca manutenção".

Apesar de tudo, e como explica Márcio Orsi da Silva, a experiência conta. "Para os iniciantes, o ideal é buscar espécies que não sejam muito exigentes com cuidados especiais e que estão sempre bonitas, mesmo com alguma dose de inexperiência - ou até alguma negligência. Vê-las bem será um incentivo para continuar a ter o verde perto, com certeza. Começando pelas mais resistentes até às mais "exigentes", sugerimos a Zamioculcas, as Sansevierias, as Peperomias e os Ficus", diz Márcio Orsi da Silva.

Para quem está no extremo oposto (e todos os cuidados são poucos), Pedro Pulido Valente lembra os bonsais. "Mais do que uma técnica, o bonsai é uma arte de manter plantas em pequena escala, limitando as suas raízes e folhas. São plantas que embora de pequena dimensão exigem uma manutenção quase diária."

Onde encontrar

Superbotanica

Rua Luís de Camões, 122

1300-362 Lisboa

Terça a sábado, das 10:00-14:00 e 15:00-19:00

Tel. 211 566 038

hello@superbotanica.com

Horto do Campo Grande

Campo Grande, 171

1700-090

Segunda a sexta, das 08:00 às 20:00

Sábado, das 09:00 às 20:00

Domingo, das 10:00 às 20:00

Tel. 217 826 660

info@hortodocampogrande.com

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