Travestis pagam cem euros pela rua
Operação. A PSP efectuou várias buscas e deteve duas pessoas em resultado de uma investigação sobre lenocínio e extorsão a travestis na zona do Conde Redondo, em Lisboa
Os clientes eram angariados pela Net ou jornais
Não foi coincidência que a operação realizada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP se tenha realizado praticamente um ano depois do homicídio de "Luna", o travesti brasileiro encontrado morto num contentor. Segundo contaram ao DN fontes da investigação, este processo começou, precisamente, a ser planeado a partir desse trágico acontecimento. O cadáver de "Luna" foi encontrado no final de Fevereiro do ano passado.
Esta sexta- -feira, a PSP avançou para o terreno, munida de mandados de busca e com os alvos já determinados. A zona do Conde Redondo, uma das áreas mais referenciadas pela prática de prostituição masculina e também o local de trabalho de "Luna", foi o alvo principal.
No decorrer da investigação criminal, sob a tutela do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, foram confirmadas as suspeitas que desencadearam o processo-crime: a existência de situações de extorsão e lenocínio, crimes previstos no Código Penal em vigor. Segundo um comunicado oficial do Comando Metropolitano de Lisboa, o esquema utilizado passava por angariar "clientes" através de anúncios na Internet e classificados dos jornais. A cada travesti era atribuída uma rua, ou um pedaço de rua, os quais, por sua vez tinham de pagar cem euros por semana aos líderes para ali poderem exercer a sua actividade.
As quantias eram divididas pelos líderes da actividade, que auferiam mensalmente entre 1500 e 5000 euros. Por exemplo, um dos suspeitos, que foi constituído arguido, tinha a trabalhar para si dez travestis, o que produzia um proveito de 4000 euros por mês, em média.
Além de terem de pagar aos "proxenetas", os prostitutos pagavam ainda cerca de 30 euros por cada utilização de quartos.
Foram assim realizadas três buscas domiciliárias em Lisboa, nas zonas do Conde Redondo e do Desterro, e duas buscas domiciliárias na zona do Montijo, estas últimas aresidências dos líderes. Um é português e o outro é brasileiro. Ambos foram constituídos arguidos, uma vez que o crime em que incorrem - lenocínio e extorsão na forma simples - não prevê a prisão preventiva.
Foram identificadas oito pessoas, entre testemunhas e vítimas, com idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos.
A PSP deteve ainda duas pessoas. Uma delas, cúmplice dos líderes, com 48 anos, foi apanhada com uma arma ilegal, um revólver calibre .22, e com 50 gramas de haxixe. No acto da detenção agrediu um dos agentes, o que lhe valeu a acusação de mais um crime, de "resistência e coacção a funcionário".
O outro detido foi um dos travestis, brasileiro, de 25 anos, por estar em situação irregular no País.
A um dos detidos foi aplicado termo de identidade e residência, não sendo conhecida ainda a medida de coacção do outro.