"Tratar o cancro por tu": a nova iniciativa do Ipatimup que vai desafiar os portugueses
Vivemos numa época em que um em cada cinco doentes oncológicos viu o seu tratamento ser atrasado por causa da pandemia e cerca de 100 milhões de rastreios foram cancelados em toda a Europa. Perante estes dados alarmantes, o Ipatimup (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto) decidiu avançar com o ciclo de sessões sobre literacia de cancro "Tratar o cancro por tu", que tem início esta tarde no Teatro Rivoli, no Porto.
Para ensinar os portugueses a "Tratar o cancro por tu", o Ipatimup vai ao encontro da população em seis municípios - Porto, Braga, Coimbra, Lisboa, Vila Real e Évora - com o objetivo de desmistificar a doença com a ajuda de especialistas de áreas médicas e cirúrgicas. Entre janeiro e março, cada uma das seis sessões de entrada livre vai destacar um tipo diferente de cancro, começando pelo do pulmão, mama, leucemias e linfomas, cólon, próstata e pele, respetivamente.
A partir destes encontros, Manuel Sobrinho Simões, diretor do Ipatimup, explica que se pretende "chegar às pessoas e contribuir para a literacia no cancro, procurando também humanizar a forma como olhamos para esta doença e compreendê-la num sentido mais amplo". Por vezes, reconhece, "a ciência tem uma linguagem demasiado hermética e técnica, pelo que é preciso aproximarmo-nos das pessoas e simplificar as explicações sobre as várias abordagens da terapia".
Em conversa com o DN, o investigador José Carlos Machado, conta que a iniciativa surgiu mediante a necessidade de preparar os cidadãos para o diagnóstico e tratamento do cancro. "Sentimos que a população portuguesa tem algum conhecimento sobre prevenção (...), no entanto, quando se trata de diagnóstico ou tratamento de cancro é exatamente o contrário. A população sabe muito pouco sobre isso e acho que há um nível de iliteracia na saúde, nomeadamente no cancro em Portugal, que é bastante grande", admite.
De acordo com o investigador, "o cancro é uma das doenças do século, entre as demências e o Alzheimer", daí ser importante esclarecer as grandes dúvidas da população."A palavra cancro continua a ser um tabu... e isso tem muito a ver com a perceção de que um diagnóstico de cancro é uma espécie de sentença de morte, o que é completamente errado. Mais de metade dos diagnósticos de cancro levam a situações que se curam, portanto não é uma sentença de morte, de todo", sublinha.
José Carlos Machado deixa a mensagem de esperança que, apesar da incidência da doença, "tudo o que nós aprendemos sobre cancro vai fazer com que este seja detetado mais cedo e, portanto, melhor tratado e controlado"."As pessoas têm de perceber que pode não ser necessário "curar" o cancro. Se nós conseguirmos transformar o cancro numa doença crónica já é bom. Pode-se viver com cancro muitos anos", frisou.
As sessões "Tratar o cancro por tu" vão contar com apresentações de Pedro Abrunhosa, os escritores Mário de Carvalho e Afonso Reis Cabral, a diretora da IARC, Elisabete Weiderpasse, bem como testemunhos e imagens captados por Kitato (instagrammer), Rui Barbosa Batista e Filipe Morato Gomes (bloggers) e Luísa Pinto (jornalista). Para alcançar todos os interessados, estas sessões vão estar disponíveis num podcast acessível através das principais plataformas de streaming.