Transportadoras exigem mais dinheiro ao Estado para reforçar rotas
As transportadoras rodoviárias exigem mais dinheiro ao Estado para aumentarem a oferta de autocarros. As empresas estão sem margem financeira para retomarem as carreiras em níveis anteriores à covid-19 por causa das regras que limitam a dois terços a ocupação dos lugares nos autocarros, avisa Luís Cabaço Martins, líder da associação nacional de transportadoras rodoviárias (ANTROP). Na próxima semana, só na Grande Lisboa haverá mais autocarros.
"Estamos a atuar com prejuízos e com défice de tesouraria. Até ao final deste mês, a pressão da procura não será por aí além. Só que a partir de junho pode ser complicado aumentar a oferta, sobretudo nas áreas metropolitanas. É preciso reforçar as verbas para financiar esse", alerta Cabaço Martins em declarações ao Dinheiro Vivo.
Habitualmente, as receitas destas empresas dividem-se entre os proveitos de bilheteira (fatia entre 50% e 65%) e as compensações do Estado (passes sociais) e das autarquias (entre 35% e 50%). Nas últimas semanas, enquanto as transportadoras privadas aguardam pela chegada das compensações públicas, as receitas de bilheteira "estão entre 15% e 20%". Ou seja, os proveitos "estão em menos de metade do normal".
Mesmo que a oferta seja totalmente retomada nas próximas semanas, "a bilheteira só vai cobrir dois terços das receitas, por causa do limite de lotação. Precisaremos sempre de apoio enquanto não tivermos a normalização" dos proveitos.
Até lá, na primeira quinzena de maio, a oferta de autocarros situou-se entre os 40% e os 45% nas áreas metropolitanas e de Lisboa e do Porto. "Tem sido suficiente para responder à procura", no entender de Cabaço Martins, embora tivesse sido necessário colocar autocarros maiores nas horas de ponta. A partir deste patamar, "apenas será possível fazer alguns ajustamentos pontuais, no próprio dia".
Na próxima semana, apenas haverá reposição de carreiras sobretudo na área metropolitana de Lisboa: através das empresas privadas TST (grupo Arriva), Boa Viagem e Mafrense (as duas do grupo Barraqueiro); e da Carris, gerida pela Câmara de Lisboa, e que vai pôr praticamente todos os autocarros no horário normal, com exceção dos elétricos e das carreiras de bairro.
Na transportadora gerida pela Arriva, a oferta de autocarros é "superior a 40%", embora os níveis de utilização se situem nos 15%, refere a empresa. Com metade dos trabalhadores ao serviço, a TST sinaliza que é "essencial que o governo financie uma reposição da oferta de transportes públicos a 100%".