Transformar Telheiras numa ilha da Polinésia
Na fase dourada do cinema português de autor, seja no formato da curta ou da longa, há uma produtora que se destaca: O Som e a Fúria. Depois da invasão no Festival de Berlim, a estreia de John From, de João Nicolau volta a fazer olhar o cinéfilo para um percurso de ascensão internacional de uma casa de produção que já é uma "label" internacional. Atrás deste percurso, um homem, o produtor Luís Urbano, sócio desta aventura com Sandro Aguilar. O ex-membro da direção do Curtas Vila do Conde, foi o responsável de uma construção de uma aclamação internacional de nomes como o seu sócio Sandro Aguilar e João Nicolau, ambos sobretudo no circuito das curtas. Depois, claro, o caso Miguel Gomes, que desde Aquele Querido Mês de Agosto, se tornou num nome forte da cena internacional do cinema de autor.
Para este mergulho de fantasia de João Nicolau numa Telheiras imaginada por uma adolescente que transforma este bairro lisboeta numa ilha da Polinésia, Urbano só tem elogios: "É um filme com potencial de culto. Por onde tem passado - e tem feito desde 2015 um interessante circuito de festivais internacionais - tem conquistado bastante fãs. É um filme que deixa qualquer um a sorrir, com um singeleza forte. Diria que é uma obra que toca a beleza".
Filmado em película, em 16mm, com uma luz de verão pueril, John From não abdica de ter efeitos de cinema, visuais ou de produção. Às duas por três, digamos que o que aparece no ecrã é uma Telheiras de fantasia delirante...Desafio para um produtor? "Este filme poderia levar-nos em duas direções. Uma delas era fazer um filme inteiramente digital e apostar numa lógica super sofisticada, tipo à Hollywood, ou apostar em efeitos visuais sob uma base de película. Pois bem, o filme foi rodado em película, está cheio de grão, e toda essa transformação, esse contraste, é feito com imagens tridimensionais e de síntese. O confronto entre o digital e anamórfico deu aquele aspeto que tinha mais a ver com o que se pretendia. Algo que é ao mesmo tempo singelo e infantil. Mas parte da transformação do espaço não é feita com efeitos visuais, é sim feita com vegetação que nós pusemos em Telheiras. Enfim, a ideia era transformar Telheiras numa ilha da Polinésia com água por todo o lado..."