Trabalho de equipa no combate às infeções de ossos e articulações
Invisíveis a olho nu, as bactérias foram os primeiros microrganismos vivos a habitar a terra, há cerca de 4 mil milhões de anos. Exercendo diversas funções importantes na natureza, são essenciais para a manutenção da vida na Terra. Mesmo a um nível individual, a esmagadora maioria delas vive em harmonia no corpo humano e contribui de forma positiva para a nossa saúde. Na realidade, existem mais bactérias no nosso corpo do que células humanas.
No entanto, uma pequena minoria delas é causadora de doenças e isso trouxe-lhes a má fama que todos conhecemos. Sobretudo antes da invenção dos antibióticos, as doenças infeciosas eram de longe a principal causa de morte. Infeções graves como meningites e pneumonias - ou mesmo infeções consideradas "corriqueiras" hoje em dia, como infeções urinárias ou simples amigdalites, tinham frequentemente desfechos desfavoráveis.
Atualmente, assistimos a uma segunda vaga de crescente preocupação com as infeções bacterianas, já que a utilização abusiva generalizada de antibióticos tem levado ao surgimento de bactérias cada vez mais resistentes e a uma menor eficácia dos antibióticos disponíveis.
Para além disso, a complexidade crescente dos procedimentos médicos em doentes com cada vez mais comorbilidades tem levado a um aumento da prevalência de situações complexas. As infeções de ossos e articulações em ortopedia - designadas de infeções osteoarticulares - são uma das principais preocupações de saúde pública, devido à necessidade de cirurgias, internamentos e tratamentos antibióticos prolongados.
Este tipo de infeção é particularmente complexa. Por um lado, o seu diagnóstico é frequentemente difícil, porque muitas vezes não é evidente: frequentemente não estão presentes os seus tradicionais sinais clínicos e traduz-se "apenas" em dor persistente e falência inexplicada de sucessivas cirurgias. Por outro lado, mesmo após o diagnóstico, o tratamento é exigente e laborioso.
Compreende-se, assim, a necessidade de garantir uma resposta clínica especializada e claramente diferenciada não só ao nível de uma adequada e assertiva intervenção
cirúrgica, como de um conhecimento pormenorizado da microbiologia e da terapêutica antibiótica otimizada, direcionada para cada doente em específico, considerando o seu estado de saúde em geral e os eventuais problemas associados. É amplamente reconhecido que o sucesso do tratamento desta patologia aumenta significativamente quando realizado em centros especializados, com recurso a cuidados diferenciados prestados por equipas multidisciplinares.
O conceito da reunião de um grupo de médicos com diferentes competências para melhor tomar decisões sobre doentes e patologias complexas não é novo. Ainda assim, em Portugal, existe um caminho a percorrer ao nível da abordagem multidisciplinar das infeções osteoarticulares.
É importante que os doentes complexos sejam tratados por equipas médicas experientes nesta área. Neste sentido, com o objetivo de oferecer a melhor probabilidade de êxito possível, surgiu o Grupo de Infeções Osteoarticulares do Porto (GRIP), composto por especialistas na área da Ortopedia, Medicina Interna e Infecciologia, altamente diferenciados no diagnóstico e no tratamento de infeções protésicas e outras infeções osteoarticulares.
É através de um verdadeiro trabalho de equipa que garantimos o melhor tratamento possível para cada caso específico e assim contribuímos para uma maior taxa de sucesso.
Ortopedista e Coordenador da Unidade de Infeções Osteoarticulares no Hospital CUF Trindade